Tardes silenciosas



Sabe senhor moço, aqueles fins de tarde silenciosos, onde do quarto só se escuta as gotículas de chuvas batendo na janela? Então, hoje o tempo se encontra assim, tudo em silêncio, na rua não se escuta nenhum barulho, nem mesmo o das árvores balançando devido ao vento.
Me encontro sentada em minha cama, recostada na parede com uma caneca de chocolate quente na mão, em baixo das cobertas e perdidas em pensamentos.
Deixo que meus olhos se fechem de tão pesados que estão e, nesse pequeno tempo, me vem a cabeça alguns momentos, que eu me deixei imaginar.
Nestes momentos, onde só existia eu e mais ninguém, escuto uns passos longos e pesados pela casa, já não existia aquele silêncio e nem mesmo a chuva do lado de fora, eu também não me encontrava no quarto, mas sim na cozinha, tomando um reforçado café da manhã.
Naquele instante, em que olhei para frente, me deparei com sua imagem, você encostado na porta, apenas de pijamas e meio sonolento, não tirava seus olhos de mim. Chamei-o para o café e você veio calmamente, me beijou a testa e sentou-se, mas não tocou em nada que estava na mesa, apenas me olhava. Seu olhar era triste e pesado, parecia cansado, não sei, você não disse nenhuma palavra e isto me angustiava e apertava mais o meu coração, sei lá, parecia que algo que não era bom estava para acontecer.
Eu impaciente, resolvi perguntar-lhe o que acontecera, você baixou os olhos e uma lágrima lhe escorreu, eu espantada apenas ficava a te olhar e de repente, você ergueu novamente os olhos e falou.
Falou de tudo aquilo que estava se passando com você, de como estava sendo difícil para você, fingir uma coisa que já não existia mais, o nosso amor.
Suas palavra foram cortantes, não vou negar que de repente meu coração ficou aos pedaços, mas eu entendi, eu entendi você, seus motivos e acima de tudo suas limitações, se fosse eu teria feito o mesmo.
Você me disse que iria embora e levantou-se para arrumar as malas, eu apenas concordei com a cabeça e permaneci onde estava, parada, sem fala e sem reação.
Você juntou tudo o que era seu, deixando apenas na mesa de cabeceira sua aliança e uma carta, a qual mais tarde eu viria a ler. Você desceu novamente, voltou à cozinha, se ajoelhou ao meu lado e apenas olhou em meus olhos, me agradeceu pelos bons e maus momentos e com um beijo na testa se despediu de mim e partiu.
Eu fiquei ali vendo você partir por aquela porta que parecia não ter fim conforme você ia saindo, pareceu uma eternidade sua despedida.
Eu voltei para o quarto, onde depois de ler sua carta, me agarrei ao seu travesseiro, onde ainda estava nele o seu cheiro, o único aroma que me fazia esquecer as dores da sua partida e eu dormi ali naquela cama bagunçada, onde na noite anterior, você havia me proporcionado a última noite de amor, a melhor de todas as noites.
O tempo foi passando e eu acabei me esquecendo dele, não sabia mais de você, por onde você estava andando, era como se eu não tivesse te conhecido ou como se você nunca tivesse existido. Somente depois de muito tempo, reparei que nossa foto não estava ao lado da cama, você a havia levado consigo, mas até hoje me pergunto por quê.
Não me olho mais no espelho, porque tenho medo do que irei ver, meus olhos inchados, minha expressão cansada, uma máscara ao invés do meu rosto, que um dia foi sorridente. Eu sei que eu tenho que erguer minha cabeça e dar a volta por cima, mas me falta força de vontade, ânimo, me falta coragem, mas um dia eu vou conseguir e eu sei que você iria querer que eu fizesse o mesmo.
Bom moço, volto a mim depois desse pequeno e leve distanciamento de pensamento, volto para a minha realidade, abrir os olhos não é tão fácil quanto fechá-los, ainda mais com lágrimas nos mesmos, ainda mais que eu sei que quando os abrir novamente, terei que sofrer em tempo real as minhas dores e o pior de tudo é saber que aquele pensamento não foi apenas um pensamento, mas uma realidade triste que deixou muitas feridas abertas e que não sei quanto tempo levará para cicatrizar-se. 

(Carol Marchi)
         

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eu ainda vou te roubar pra mim

Ela tem sido mais pra você do que pra ela mesmo...

A alegria de volta