Dê-me motivos

Dê-me motivos para voltar a escrever. Dê-me motivos para voltar a ouvir as nossas velhas canções. Dê-me motivos para voltar a sorrir, mas, por favor, não me dê mais motivos para chorar.

Quantas fotos estão espalhadas e rasgadas pelo chão, quantas cartas minhas estão jogadas pela mesa, algumas terminadas, outras pela metade e até manchadas devido a tinta da caneta, mas todas endereçada para um único destino, uma única pessoa, um só coração.

Ouça moço, onde quer que você esteja. Preste à atenção ao escutar o que vou ler agora. É só uma carta de amor de alguém que um dia teve razões para sorrir. Feche os olhos e imagine minha voz e, por favor, leia esta carta que está em suas mãos, não a jogue fora, porque junto dela está o meu coração.

“Moço, nesta noite ao ver a lua sair timidamente por entre as nuvens, me lembrei de você. Lembrei-me dos momentos, aliás, dos melhores momentos.

Como vai você meu amor? O que tem feito? Por acaso você se lembra de mim? É claro que não, que ilusão a minha.

Bom, eu sou aquela que possuía um sorriso bobo toda vez que te ouvia. Aquela que possuía o brilho nos olhos toda vez que te via. Eu sou aquela que não conseguia parar de sorrir quando estava ao seu lado, que sentia as pernas tremerem e o coração acelerar só de ouvir seu nome. Eu sou aquela que te ama mais do que a mim mesma.

Eu choro, mas eu já cansei de chorar. Eu cansei de esperar, me dê uma solução, uma resposta.

Ao terminar de escrever essa carta eu senti as lágrimas rolarem, mas ao fechar os olhos senti uma mão enxugá-las, imaginei que fosse você e eu queria verdadeiramente que fosse você, mas infelizmente era só imaginação minha.

Espero que tenha lido, que não tenha se cansado ou achado uma tolice, que não tenha deixado de lado e adiado diariamente está leitura. Espero também que corresponda ao meu amor, serei a mulher mais feliz do mundo e espero por sua resposta ansiosamente.

                                                      Com amor e carinho, alguém que te ama muito.”

Eu espero a resposta até hoje, mas ela nunca vem. Acho que já me conformei com a ideia de que com você eu nunca vou poder viver uma história. Por isso não te envio mais as cartas, por isso tenho vontade de queimá-las para que com elas também as lembranças queimem, para que assim eu possa encontrar outra pessoa que me ame de verdade. Para que assim eu encontre as respostas de todas as perguntas que eu fiz a você, as quais eu nunca obtive resposta.

As cartas estão manchadas. Umas por causa do tempo, outras por causa de uma gota de chocolate quente e a maioria borrada devido às lágrimas que caiam constantemente toda vez que eu começava a escrever e a pensar em você.

(Carol Marchi)