Quando ela saiu em silêncio.




Eu vi quando você passou. Vi também quando você sorriu. Nenhum detalhe me passou despercebido e sei que você sabe que o meu olhar naquele momento era seu. Todo seu.
As horas passaram lentamente enquanto eu te observava ali parada. Você estava tão concentrada em seu caderno, rabiscando alguma coisa, algumas palavras que eu daria tudo para saber o que é. O dia hoje está movimentado. Sei que você não me percebeu a porta, mas eu sorri desde o primeiro instante, assim que vi sua mochila... Sabia que era você e não me enganei.
Seu olhar preenche todo o vazio que habita em mim. Seu olhar me faz querer amar intensamente de uma forma que eu nunca amei. Encontrei neles a luz para iluminar o que em mim estava obscurecido. O meu olhar te pertence e eu queria poder-te falar sobre os meus sentimentos. Tenho medo. Medo de descobrir o que eu sinto... Medo por saber que não posso estar sentindo e não conseguir evitar.
Agora você olha ao longe. Tem o olhar cansado, bem fundo, expressivo. Tens chorado? Se sim, por quê? Culpo-me tanto por não ter tempo para você e sei que fui eu a causa de nosso afastamento. Queria tanto que você se abrisse comigo. Você é um mistério.
Li sua última carta. Sua angustia me incomodou e me deixou um tanto preocupado. Queria tanto que soubesse que nada daquilo que escreveu é verdade. Queria tanto que você acreditasse mais em si mesmo. Você é importante para mim. Muito importante e eu te amo tanto, mas não sei até que ponto esse meu amor pode preencher esse vazio em você.
Ah! Como eu sorri quando vi seus olhos finalmente nos meus, como seu sorriso me balançou quando me dirigi a você quando cheguei tão perto, quando apertei sua orelha em uma simples brincadeira. Eu sentia seus olhos em mim. Precisava da sua companhia, queria você perto e por mais que você estivesse me evitando, fiz de tudo para te convencer do contrário. E quando você sentou na minha frente, tudo se acalmou meu coração se aquietou e isso é tão estranho.
Enfim, gastei a tinta da caneta e uma folha de papel para escrever sobre sentimentos que não me são permitidos. Rasgo está carta. Tudo está acabado. Não posso te amar. Contenho as lágrimas, disfarço o choro e lhe sorrio enquanto você de pé se despede em silêncio e sai.
E ao fundo da sala o piano se emudeceu, o violão se aquietou e a sua voz silenciou... As cortinas se fecharam. O espetáculo acabou. Você foi embora para o seu refúgio, seu silêncio, sua solidão e amanhã será mais um dia que se vai.

(Carol Marchi)

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