A escolha de partir




Guardei o violão na capa e coloquei-o nas costas. Na mão a pequena mala com alguns de meus pertences. Desço as escadas quase sendo vencida pela força de ficar. As lágrimas permanecem presas, paro no meio da sala e dou uma última olhada para a casa. Respiro fundo, as lágrimas caem. Chegou a minha vez de partir moço. Estou indo embora.
Enquanto olho em volta, imagens voltam por minhas lembranças. Eu jurei tentar ser feliz, mas tive medo. Tive medo quando abri as portas para você entrar, mas permaneci com a pose de durona tentando enganar a mim mesma, mas não consigo fingir por muito tempo.  Você está encostado na parede e olha pela janela alguma coisa que lhe chamou a atenção. Tem os olhos fixos e distantes, não sei dizer ao certo se andou chorando ou se está apenas cansado... O pensamento longe... Largo a mala no chão, tiro o violão das costas e o deixo apoiado no sofá... Preciso me despedir, preciso lhe dar um beijo.
Aproximo-me com o receio de você não querer me ver, mas você deu um passo para traz e eu cheguei mais perto. Nossos olhares se cruzaram e com suas mãos firmes me puxou pela cintura e me envolveu em seus abraços. Eu prometi não chorar, mas essa promessa eu quebrei. Eu não queria sair dali. Meu mundo... Meu amor. Que droga de medo que não me deixa ser feliz... Que abraço mais gostoso esse o seu... Tão forte tão meu. Não me solte, não agora. Não me solte nunca mais, me impeça de partir... Você sabe que eu faço tudo o que você pede... Afastei-me. Encarei seu olhar e você não desviou, tomei a liberdade de acariciar seu rosto, sua barba por fazer, posso senti-la por sobre a pele, essa pele tão macia... Seguro seu rosto por entre minhas mãos, respiro fundo e aproximo o meu do seu... Toco-lhe os lábios e me perco por longos minutos no seu beijo, no toque das suas mãos. Mãos estas que todas as noites afagavam os meus cabelos... Braços que me envolviam e me esquentavam... Lábios que sussurravam palavras de amor nos meus ouvidos e me faziam sorrir com um sorriso também. Noites estas que não terei mais.
É hora de ir e me afastar é tão difícil! Sei que a escolha foi minha e ainda não sei muito bem porque a fiz, mas estou agindo com a razão, pois sei que um dia quem partirá será você e meu coração sofrerá com tudo isso. Sussurro bem baixinho que te amo, mais uma vez você me encara, quieto. Pego minhas coisas e saio. Paro em frente à casa e aceno. Da janela você permanece como se não houvesse se movido, retribui com um aceno leve e um sorriso cabisbaixo. Meus olhos se encheram de lágrimas, meu coração se quebrou em mais pedaços nesse momento. Viro-me e sigo meu caminho. A estrada é longa e eu preciso evitar olhar para traz, preciso ser forte, mas me permito uma última contemplação de seu olhar junto do meu. Que você seja feliz meu amor, o mundo já sorriu para você e me deu a chance de fazer parte da sua vida e saiba que foi você quem deu sentido a minha vida novamente.
Olho para o céu enquanto as lágrimas se perdem pelo meu rosto, dou um sorriso de leve ao pensar em você. Carrego comigo nossa primeira foto juntos e sei que toda noite eu terei seu sorriso comigo, terei seu olhar para mim basta apenas que eu olhe para o céu e pense em você, sei que em meus pensamentos eu irei te encontrar todas as vezes que fechar os olhos e sussurrar seu nome para as estrelas, elas levarão minhas juras de amor a cada brisa leve... Espere sempre na janela quando sentir um vento leve adentrar pela casa. Não se esqueça de mim. Eu te amo... Para sempre.

(Carol Marchi)

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