Nosso Vinho...
É difícil
se acostumar com as coisas feitas e ditas em relação ao coração. Por mais que
pensemos estar imunes depois de tantas decepções, sempre tem algo para lhe
mostrar que aquilo pode ficar pior... Assim como aquela noite querido em que
abrimos aquela velha garrafa de vinho, aquele que mais gostávamos... Abrimos
não sei por que, pois desceu mais amargo do que uma gota de limão... Fiquei
paralisada ouvindo suas palavras de despedida... Fui pega de surpresa e não
soube nem o que dizer... Sim, eu me lembro.
Lembro-me
de tudo... Do momento em que lhe conheci, do momento que resolvemos nos tornar
um só e também do momento em que você resolveu simplesmente jogar tudo o que
vivemos para o alto. Foi assim que reparei que todos esses anos foram perdidos.
E hoje ao
entrar em casa encontrei em cima da antiga mesa da sala suas chaves... O que
achei muito estranho... Foi aí que me lembrei de que eu não havia trocado a
fechadura da porta... Um verdadeiro descuido de minha parte ou talvez não.
Você
estava sentado no chão da sala como nos velhos tempos... Ao lado pude reparar
na velha garrafa de vinho e duas taças... Ao fundo um som que não me era
desconhecido... Era nossa música. Você se assustou ao ver-me entrar... E eu
reparei em seus olhos cabisbaixos e vermelhos.
Havia acontecido alguma coisa e isto me fez recordar nossa última
discussão ao qual eu disse a seguinte frase: “Pode me ignorar o quanto você
quiser... mas amanhã quando todos se esquecerem de você, não se preocupe,
porque eu estarei aqui de braços abertos para te acolher em um abraço e te
mostrar o quanto eu sou diferente de você!”
E foi o
que eu fiz... Eu te acolhi te abracei... Dei-te amor... E você chorou feito uma
criança. E eu não sabia o motivo, mas já podia imaginar... Mas somente o meu
silêncio naquele momento lhe era suficiente. Somente o meu abraço já te
bastava. Agora entendi a velha garrafa de vinho... Você queria voltar e eu te
aceitei... Mas sei que isso não durará muito amor... Seu estoque do nosso vinho
favorito é ilimitado... Para que assim em toda a sua ida e forma de despedida e
toda a sua volta e forma de reconciliação sejam marcadas pelas mesma e antiga
safra do nosso primeiro encontro... Do nosso primeiro beijo... Da nossa
primeira noite... Das nossas idas e vindas... E da nossa típica falta de
vergonha na cara. E assim vamos vivendo... Eu te amo e tenho certeza disso...
Já você, não sabe seu próprio rumo e vive vagando perdido por estradas sem
direções.
(Carol Marchi)
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