Palavras que eu calei




Eu estava sentada no banco sobre a sombra da árvore, cujas folhas formavam uma brisa deliciosa, quando você se aproximou em silêncio e sentou-se ao meu lado, encarando-me e perguntou-me sobre o que eu escrevia e eu lhe respondi que era sobre você.
Você voltou seu olhar para o horizonte e recostou-se no banco. Eu te olhei de rabo de olho e abaixei a cabeça e depois olhei para os lados, meio desajeitada.  Ainda não aprendi a ficar em sua presença sem me sentir envergonhada.
Eu sei que tem sido difícil a cada dia esconder o que eu ando sentindo, mas eu jurei pra mim mesma que nunca deixaria você saber do meu amor... Tentativa vã, principalmente acabando de te contar que é sobre você que eu escrevo.
Sabe por que eu não consigo esconder? Porque eu quero bagunçar o mundo com você, na verdade eu quero bagunçar o meu mundo no seu, quero roubar seus sorrisos, ou melhor, ser o motivo deles. Eu quero te levar café na cama pela manhã ou receber um carinho de bom dia e quero caminhar pelo parque de mãos dadas. Ir ao cinema, mostrar meu amor sem ter que contê-los e escondê-los.
Você não sabe o quanto é difícil conter um sorriso quando você simplesmente aparece do nada. Minhas pernas tremem e o meu coração se acelera, exatamente como agora, sentada, aqui nesse banco. Você bagunça minha órbita, mas simplesmente não passeia por ela, não tem curiosidade em conhecer o que o meu coração tem a lhe dar... Talvez antes você até soubesse, mas e agora o que restou da pouca amizade que tínhamos além do silêncio? Ela adormeceu em mim e morreu em você.
Estou cansada de silêncios... Estou cansada de sufocar os sentimentos presos em mim e agora que tenho a oportunidade de falar sobre eles... O silêncio é a única coisa que me resta, enquanto quieta, dito cada palavra que gostaria de lhe dizer, enquanto engulo as lágrimas para que você não saiba que eu as derramo pelos sentimentos contidos em mim, pelos sentimentos massacrados pela sua presença tão ausente, pela sua distância que eu sinto sempre em cada minuto, sobre esse afastamento que me faz sofrer e que você nem nota por sempre estar ocupado demais e eu entendo, aliás, eu não tenho que entender nada, eu preciso é aceitar e ponto final... Você tem sua vida e eu preciso seguir com a minha.
Encarar-te é bem difícil, mas crio forças para fazê-lo. Deixo os meus olhos fixos nos seus e fico pensando por um bom tempo. Você me olha impaciente enquanto balança a perna e tem as mãos no alto da cabeça, tentando assim decifrar o que estou pensando. Eu sorrio frouxo e me viro. Respiro fundo, levanto-me e ponho-me a caminhar para longe de você, do seu olhar, do seu cheiro, pois se ali continuasse nada mudaria. Enquanto eu caminhava, cheguei à conclusão de que é melhor dar a minha ausência para quem não nota, a minha presença, pois só assim eu de fato saberei: se procurar é porque sente a minha falta, se não, é melhor eu aprender a esquecer... Quem sabe dessa vez eu não aprendo também escolher por quem sofrer...
Paro e olho para traz com o intuito de lhe dizer alguma coisa. Ameaço a falar, mas as palavras não vêm. Seus olhos são lindos e penetram minha alma, invade meu lado mais obscuro e traz luz e paz, mas é somente coisa da minha cabeça meu amor, eu me sinto tão importante quando me olhas, mas depois tudo se desfaz. Iludi-me com a promessa de que a amizade seria para sempre e hoje o que restou dentro de mim foi a pior sensação de todas... A sensação de me sentir como um objeto, de ter sido usada somente enquanto precisava e que agora tinha sido esquecida em um canto qualquer sem ter importância e sem ter valor... Cada palavra sua, cada eu te amo saído da sua boca, foram tudo mentiras que eu acreditei. Sorri mais uma vez... Um sorriso de incredulidade e tristeza... Engoli a seco e voltei a caminhar, estou afastando-me agora e sei que você não vai se importar, mas eu supero. Peço apenas que respeite o meu silêncio, pois agora é a minha vez de calar.

(Carol Marchi)





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