A noite é uma criança

É madrugada. Acordo no meio da noite e viro-me na intenção de envolver meus braços em volta do seu corpo. O seu espaço está vazio e na mesma hora abro os olhos e não te encontro. Olho ao redor do quarto e não te avisto nem mesmo na sacada, então me levanto livrando-me da preguiça e vou te procurar.

Desço as escadas em silêncio, você está na sala e a TV está ligada em algum documentário que você sempre gosta de assistir, mas não era normal você assistir àquela hora da noite. Aproximo-me bem devagar e paro junto ao pé do sofá. Você me olha meio preguiçoso e sorri e eu não pude deixar de sorrir junto, dei-lhe um beijo na testa e fui até a cozinha colocar alguma coisa no estômago e aproveito para fazer uma pipoca.

Voltei e sentei-me na outra poltrona, seu olhar para a minha pipoca foi de total reprovação e eu ri da sua cara de bravo.  Estava frio ali e eu queria muito pular para o seu lado. Você roubou um punhado da pipoca e eu te olhei com cara de irônica meio que te reprovando também. Logo eu estava do seu lado, tendo seus braços envolvidos em mim e minha cabeça apoiada entre seu ombro e seu peito.

Eu devo estar realmente louca ou sonhando, mas eu amo essa loucura e todo esse sonho. Essa loucura de estar com você independente da hora, de conversar e ri, de te usar como fonte para a minha inspiração em cada novo texto. Eu tomo o computador nas mãos e enquanto você mantém seus olhos fixos na tela da TV, eu escrevo. O frio da madrugada entra pelo vão da janela e desperta em nós a intimidade através do calor das peles. Suas mãos em meus ombros passeiam distraidamente pelo meu cabelo e você nem percebe o quanto eu sorrio com esse seu gesto. A forma como você se concentra e sorri com alguma bobagem que o apresentador tenha falado dá sentido e criação a cada frase que eu escrevo.

Eu transformo os meus sentimentos em palavras, eu transformo o nosso amor em uma bela história, eu me deixo levar todas as noites e todos os dias por cada detalhe seu só para poder ter uma mania nova para poder contar.

Nesse exato momento seus olhos mudam de foco e você agora interage com cada palavra que eu ponho aqui, e eu te olho vez ou outra e sorrio da forma mais sincera que eu encontro. Cada bobeira que eu escrevo você gargalha e pergunta se eu realmente postarei sobre isso e eu rio junto, pois é bom saber que nossas histórias nem sempre são tristes.

Ah amor eu assinaria aqui o seu nome se me fosse permitido, mas jurei a você segredo total. Fecho a tela do notebook e o em cima da mesa de centro da sala, mergulho meu rosto pelo seu pescoço e me embriago do seu perfume, danço em cada batida do seu coração e me arrepio em cada toque seu. A vida é mais gostosa assim e toda noite é uma criança. Perco-me em seus braços, esquento-me em você e adormeço antes que a minha realidade termine quando eu resolver acordar. E descobrir que tudo não passou de um sonho.

(Carol Marchi)