Entre dois pensamentos...




Acordo no meio da noite, um tanto assustada devido a um pesadelo. Fico em silêncio enquanto observo a figura ao meu lado dormindo como um anjo. Acalmo-me da minha agitação para não o acordar. Contemplo o seu rosto. Recosto a cabeça no travesseiro deitando-me de lado para olhar melhor. Ele dorme tão sereno e é quase possível contar quantas vezes respira. Eu sorrio e seria uma mentira se eu dissesse que não sei o porquê.
Delicadamente passo meus dedos por aquela barba desenhada e um pouco rebelde. Como eu gosto delas... Acaricio o seu rosto e aproximo-me deitando minha cabeça em seu peito. Seu coração bate em um compasso contagiante. Eu puxo a coberta e me envolvo nelas para me esquentar auxiliada pelo o calor do seu corpo... E adormeço ouvindo as batidas do seu coração.

***
Eu senti quando ela acordou. Parecia agitada e assustada, mas ela não me acordou então não fiz nenhum movimento que indicasse que eu estava acordado. Ela se recostou ao meu lado eu podia sentir o cheiro do seu perfume, inspirei fundo só para ter certeza que ela estava realmente ali.
Senti sua mão tocar meu rosto e queria colocar as minhas sobre as dela. Fiz menção em fazê-lo, mas não queria deixa-la sem graça... Deixei que se aproveitasse do momento... E o toque dela era especial. Era terno.
Ela se aproximou delicadamente para não me acordar e deitou sua cabeça em meu peito. Senti a tensão tomar conta de mim... Pude sentir o cheiro doce dos seus cabelos, eram tão macios e eu queria afagá-los. Então abri os olhos e levei à mão ao alto da sua cabeça e acariciei seus cabelos enquanto permanecia olhando para o teto.

***
Fiz de tudo para não acordá-lo, mas foi uma tentativa vã. Suas mãos estavam em meus cabelos e eu despertei assim que senti seu toque. Ele tinha os olhos vidrados no teto. Sua respiração se alterou. Ele era tão quente... Tão forte... Tão meu.
Sentei um tanto preguiçosa e fiquei de frente apoiando meu braço delicadamente em sua barriga, enquanto ele permanecia deitado. Conversamos por longas horas, rimos bastante e eu não conseguia me desprender daqueles olhos que invadiam minha alma, que via além de mim, de cada sorriso que saia no meio de alguma frase sobre uma história incrível que ele me contava. Eu só conseguia prestar atenção no desenho do seu rosto, nos cabelos baixos, na barba que eu nunca pensei que fosse gostar tanto. De todos os lugares era ali que eu queria estar mil vezes.
Eu lhe contava minhas histórias e ele ria de uma forma descontraída, um riso tão gostoso tão sincero. E implicava comigo, debochando de alguma coisa que eu havia contado e eu sorria e fingia estar ressentida só para que se aproximasse para me roubar um beijo. Tinha um braço apoiando a cabeça enquanto deitado e me encarava de um jeito que eu não queria que parasse. E eu puxei seu braço e me deitei neles, tomei suas mãos nas minhas e enquanto mexia em seus dedos fechei os olhos para sentir a brisa que adentrava o quarto pela janela aberta em nossa frente. Encarei seus olhos mais uma vez e sorri e voltei a olhar para cima fechando os olhos novamente enquanto sentia o toque leve e suave de nossas mãos.

***
Ela era toda delicada, mas ao mesmo tempo forte. Deitou e apoiou seu braço em minha barriga e me encarava. Se ela soubesse o quanto o olhar e o sorriso dela me fascinavam faria isso mais vezes mesmo que não fosse somente para mim. Eu adoro quando ela sorri e principalmente pela forma como me olha.
Eu lhe contava minhas histórias e parecia diverti-la, o que era um bom sinal. Seus gostos eram totalmente diferentes dos meus, mas tínhamos muitas coisas em comum. Era bom deixá-la um pouco irritada, implicar com algumas de suas manias e roubar-lhe um beijo vez ou outra. Por mim poderíamos passar o resto da noite assim.
O silêncio da noite estava sendo favorável com o momento. Então ela se deitou em meus braços encarou o meu olhar e sorriu e eu sorri, não tinha como não sorri por ela. Ela tomou minhas mãos nas dela e naquele momento enquanto ela permanecia de olhos fechados pude reparar em cada detalhe do seu rosto, na curva que se formava quando sorria e eu percebi quando, sem querer deixar transparecer, uma lágrima caiu dos seus olhos... Ela automaticamente se virou.
Eu confesso ter ficado sem reação. Ela era mesmo um mistério, uma confusão como mesmo disse, mas apesar de todos os problemas que ela disse ter eu não encontrava nela defeitos que me fizessem desistir de querer estar com ela. E respeitando seu momento deixei que chorasse quieta e apenas me aproximei e passei meus braços em sua volta, envolvendo-a em um abraço. Ela colocou sua mão sobre eles e apertou com ternura e eu lhe dei um beijo delicado no pescoço. Eu estava ali e iria protegê-la, não deixaria que nada de mal lhe acontecesse mais uma vez.

***
Estava tudo tão bem e eu nem sei por que comecei a chorar. Talvez tenha me lembrado de alguma coisa e por vergonha me virei de costas. Sei que ele mantinha os olhos em mim sem entender muito bem o que tinha acabado de acontecer, mas foi compreensivo e não forçou em querer saber por que eu estava chorando.
Senti apenas quando se aproximou, o calor do seu corpo e seus fortes braços me envolvendo em um abraço superprotetor com um leve beijo no pescoço. E eu recebi aquele gesto com muito carinho... Precisava dele mais do que tudo e ele parecia compreender isso sem eu ter dito uma palavra sequer. Apoiei minha mão em seu braço e apertei-os enquanto afundava o rosto no travesseiro. Um sorriso atravessou meu rosto por saber que ele estava comigo apesar de tudo o que eu havia falado para ele.
Como dois mundos tão diferentes podem ter se encaixado tão bem? Mas só sei dizer que o amor que eu sinto por ele é como a carta que uma mulher apaixonada espera receber do seu amado... É uma espera carregada de emoção assim que lida, são palavras ditas do mais profundo dos sentimentos e o eu te amo dito com um misto de desejo e esperado há tempos... E o que eu posso dizer se não apenas que o amo, não somente pelo o que ele é ou pelo o que faz por mim, mas porque ele me ensinou que o amor vai muito além da beleza ou de qualquer outra qualidade. Ele me ensinou que o amor vem dos defeitos do outro, pois são eles, que deveremos aprender a suportar todos os dias, que deveremos aprender a amar e a lidar... Que o amor nasce num olhar permanece num sorriso e é concretizado em gestos que traduzam o que é dito em palavras todos os dias... Ensinou-me que o amor não é uma escolha, mas uma decisão e eu me decidi por amá-lo não tão simples assim, mas é assim que é e eu nunca vou deixá-lo.
Enxuguei meu rosto e virei para lhe olhar mais uma vez. Estávamos bem próximos, então lhe dei um beijo antes de virar e me aconchegar nele. Fechei os olhos e apenas deixei que o meu cansaço que parecia estar acumulado há tempos me guiasse para um sono profundo.

***
E ela afundou o rosto no travesseiro e eu não nego que senti uma pontinha de curiosidade em saber por que chorava, mas não perguntaria nada deixaria que ela falasse no momento que achasse apropriado.
Ela se virou para mim e tocou meu rosto aproximando seus lábios dos meus e beijando-me. Eu correspondi e senti meu coração pulsar dentro de mim tão forte que nem sei explicar, mas senti uma confiança brotar dentro de mim sobre aquilo que eu estava sentindo. Ela se virou e se aninhou ao meu corpo e eu a abracei mais forte, e ela adormeceu. Parecia um anjo, um anjo que acabara de cair em meus braços me fazendo sentir melhor a cada segundo.
Meu mundo se ligou ao dela e nossa conexão foi imediata. E ela ainda se atreve em me dizer que fui eu que a ensinei a amar... Ah se ela soubesse o que fez comigo, mas eu ainda terei a coragem de lhe contar que amor foi aquilo que eu senti quando nossos caminhos se cruzaram, quando os nossos olhares se encontraram, quando ela me sorriu. Ali eu percebi que a espera não era tão ruim assim, com ela aprendi que esperar não é uma tortura quando se sabe exatamente o que quer. Com ela eu aprendi a acreditar mais nas palavras que eu lhe disse. Com ela eu concretizei a minha decisão de amar. Com ela que quero estar e prometo reconquistá-la a cada dia, pois o amor consiste em renovar todos os dias à promessa que foi feita uma vez perante aos olhos do Senhor. Prometo amá-la até que a morte nos separe e espero fazer esse juramento em breve... Acordar todas as manhãs, enquanto o sol ilumina lá fora o mundo inteiro, eu a tenho aqui comigo, o meu próprio sol, que ilumina o nosso refúgio com seu sorriso cristalino.
Ela adormeceu e eu recosto a cabeça ao seu lado e adormeço com a mesma certeza de hoje, que amanhã será mais um dia feliz e carregado de promessas... E sussurro em seu ouvido que eu te amo e que amanhã te amarei muito mais do que hoje e assim se seguirão todos os dias até que ela se canse de mim... Eu nunca vou deixá-la.

(Carol Marchi)

        

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