Uma manhã de Sábado
Eu hoje deixei de lado o
computador e optei por escrever da forma tradicional. Havia tempos que não o
fazia, é bom relembrar os velhos tempos.
Não
tenho um lugar para chamar de “meu canto particular” para a hora da escrita,
mas posso usar da imaginação para criar certo cenário e, é exatamente o que
farei agora. Contarei mais um pouco sobre minha tão confusa história, mais
precisamente sobre os meus sentimentos, o que não é tão novo assim.
Hoje
encontrei um lugar de paz. Sobre a sombra da árvore escreverei sobre os meus
últimos dias, minhas últimas horas até aqui.
***
O
relógio desperta. São exatamente seis horas da manhã, hora de levantar. É
sábado, mas o dia será longo, aliás, muito longo. Reluto bastante entre a força
que me prende à cama e entre a decisão definitiva de levantar. Enfim,
levanto-me.
Pego
minha roupa já separa sigo para o banho, hora mais difícil nos dias de frio
pela manhã. Eu passo batida pelo espelho, não tenho me sentido bem nos últimos
dias e se me olhasse exatamente naquela hora, voltaria a dormir.
Entro
para o banho, me arrumo e por fim decido me encarar no espelho. Nossa! Minha
aparência não poderia estar das piores! O cabelo uma rebeldia tamanha e por
dentro parecia que meu estômago pularia para fora a qualquer momento. Passo a
escova pelos fios rebeldes, jogo o cabelo para o lado, escovo os dentes, dou
uma última olhada no espelho e me encaro por alguns segundos. É hora de ir, já
estou atrasada. Tomo a mochila às costas e parto para encarar um presente
embebido de passado.
***
Chego
ao meu destino. Estacionado nele um ônibus com pessoas que conheço, mas que ao
mesmo tempo me são desconhecidas de certa forma. Sento no mesmo lugar de
sempre, ao lado da minha amiga. Trocamos algumas palavras, mas logo o remédio
faz efeito. O ônibus parte e, eu não pude nem colocar os fones no ouvido. Fechei
os olhos enquanto me deixava levar pelo balanço do ônibus e adormeci.
***
A
viagem foi longa e o meu enjoo parecia querer não me deixar. Desci e caminhei
sentido ao local destinado na companhia de alguns amigos. Eu ainda não estava
totalmente acordada, escutava enquanto falavam comigo, mas não conseguia
raciocinar uma resposta sensata. Dentro de mim uma ansiedade sem fim e eu sabia
o porquê e por quem e foi exatamente a primeira pessoa que eu avistei, mas
contive minha vontade, não somente pela necessidade de ir ao banheiro como
também pela falta de coragem de chegar perto.
Não
entrarei em pequenos detalhes ou em falas para não deixar as coisas mais chatas
que já estão.
Enfim,
voltando ao pensamento anterior, fui impulsionada a ir até lá. Eu e meus amigos
nos aproximamos e eu cumprimentei as demais pessoas ali da roda e voltei para
perto dos meus amigos no momento exato em que eles “fofocavam” para o moço (é
assim que o chamarei a partir daqui) que eu estava passando mal.
Encarei-os
incrédula, não havia necessidade de espalhar aquilo, apenas concordei quando
olharam para mim. O moço estendeu as mãos para cumprimentar-me e eu juro que
estava destinada a dar-lhe um abraço, mas seus olhos nos meus fizeram minhas
pernas travarem, sua pequena preocupação ao querer saber como eu estava, fez-me
sentir que eu significava um pouco para ele, pelo menos naquele momento (eu sei
que era bobeira, logo passaria, mas me senti confortada) e seu gesto tão espontâneo
de por para trás da minha orelha, ou pelo menos tentar, uma mecha do meu cabelo
que pendia sobre o meu rosto, fez-me sorrir. Ele estava tão perto e eu sentia
meu coração se agitar enquanto ainda tinha minhas mãos nas dele.
Eu
queria fugir dali e não sei dizer nem o porquê, mas não podia deixar que meus
pensamentos seguissem outros rumos, falassem mais alto. Eu precisava pensar um
pouco em mim, por mais que eu quisesse congelar o momento, parar o tempo, por mais
que quisesse que ele me puxasse para um abraço, o moço não era meu e eu logo
afastei, ou pelo menos fiz um esforço enorme para evitar os pensamentos que no
fundo não deveriam existir.
***
Alguns
minutos se passaram depois disso. Eu e minha amiga nos sentamos no canto das
escadas sobre a luz do Sol para afastar um pouco do frio. Conversávamos
distraidamente quando eu sem perceber, vi o passado passar ao meu lado. Tomada
pelo susto levei à mão na boca para abafar a minha surpresa. Eu não tinha tanta
certeza se ele iria, mas ele foi.
E
o melhor de tudo isso é que pela primeira vez depois de longos anos, pude
encará-lo nos olhos sem me sentir inferior. Definitivamente eu não sentia mais
nada, nem saudades e a curiosidade de saber como ele estava se desfez assim que
o vi.
Sei
que seus me encaravam quando eu estava distraída, ele sabia que o que eu sentia
havia se acabado e eu me sentia livre depois de anos de uma prisão que mesma
criei. O passado realmente havia acabado e todo o meu medo de encará-lo e
mostrar o quanto eu estava feliz, também. E foi exatamente o que eu fiz quando
lhe sorri normalmente e acenei. Encarei o meu fantasma, ele não me assombra
mais.
***
O
almoço tardou a chegar, mas a fila não era enorme. Logo nos sentamos e em
seguida o moço se juntou a nós. Meu apetite não estava o dos melhores. Terminei
rapidamente e apenas fiquei a observar e a ouvir os assuntos que surgiam na
mesa. Pronunciei poucas palavras e dei apenas lugar aos risos.
Por
vezes me concentrava no moço, em seus olhos e continha um sorriso, mas quando
ele sorria era inevitável não sorrir também, era contagiante.
Não
me deixei levar pelos sentimentos, tranquei-os dentro de mim e os coloquei de
castigo. Estou aprendendo a domá-los, são muito ferozes.
Levantamos-nos,
a manhã tinha sido ótima, as companhias e as conversas as melhores... E aqui eu
abro um parêntese para dizer que melhor que ter um amor é ter amigos, afinal,
são os amigos que ficam ao seu lado quando o amor não é favorável e com eles
meus sorrisos quase sempre são verdadeiros, pois eles também entendem quando eu
preciso silenciar me ausentar... Amo a cada um deles e isso está ficando
sentimental demais, melhor parar por aqui antes que eu chore e perca a linha de
raciocínio.
***
É
hora de ir. Nunca quis tanto ir embora como dessa vez. A volta foi angustiante,
a demora estava estampada nos pés do motorista. Queria minha casa, ansiava por
minha cama, precisava descansar, estava exausta... De tudo.
Por
mais feliz que eu estivesse sentia-me estranha. Eu sabia que logo tudo isso
acabaria, mas o conhecido se tornou desconhecido muito rapidamente.
Sorri
aliviada quando o ônibus tomou sua partida e eu sabia que esse dia ficaria
marcado. Ali eu coloquei um ponto final em uma história inacabada, fechei um
livro que ficou aberto por anos acumulando poeira, deixei lembranças de
momentos que não queria levar comigo... Deixei-os ali... Para sempre
esquecidos... Mas eu tenho medo. Medo que tudo volte a acontecer da mesma forma
e eu não quero isso. É exatamente o que mais me incomoda: o meu querer e o meu
não poder.
No
fim escrever é mais fácil que falar e viver, na escrita, te proporciona usar um
pouco da ficção e na vida real não é assim. Nada é como flores ou têm finais de
contos de fadas. Na realidade as dificuldades sufocam e só cabe a nós sabermos
o que fazer com elas. Ou as derrubamos ou elas nos derrubam.
Não
matei minhas esperanças, mas apenas fiz com que se adormecessem dentro de mim.
Amo não nego, mas não espero mais que isso.
(Carol Marchi)
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