As cartas que não lhe escrevo mais...
Eu já não
te escrevo mais. Sei que você não lê nenhuma das minhas cartas. Cartas às quais
tenho todo o cuidado de fazer, onde faço minha caligrafia perfeita, onde ponho
todo o meu amor. Hoje encontrei pedaços de papel perdidos pelo chão. São meus
rascunhos, meus desabafos. As histórias nelas são sempre as mesmas, o
destinatário também. A única coisa que muda, são as palavras, estas sempre vão
mais cheias de sentimentos.
O
contexto nunca muda meu bem. Ainda vivo tentando entender o motivo pelo o qual
se foi por isso sempre pergunto, mas nunca obtenho uma resposta.
Já perdi
as esperanças, já cansei de esperar. Se quisesse responder já teria respondido.
Hoje por
ironia do destino abri a caixa do correio e ali havia uma carta e para a minha
surpresa era sua. Como não reconhecer uma caligrafia tão bela como aquela? Como
não reconhecer e entender palavras tão duras como as suas? E no final, nada mais
e nada menos do que aquela assinatura que um dia marcou nossas vidas em outro
momento, um momento de felicidade, de sorrisos e não de lágrimas.
Suas
palavras penetraram bem fundas no meu coração. Senti as lágrimas quentes
descerem pelo meu rosto, senti o nó na garganta se formando e aquele grito
reprimido que não permiti sair. Fiquei ali parada lendo e relendo toda a minha
dor. Meu coração estava quebrado. Suas palavras foram como faca afiada para
ele.
Não
possuía nenhuma reação. Só queria o silêncio do meu quarto. Só queria o mundo
que criei para mim, só queria que tudo aquilo não estivesse acontecendo. Só
queria que você estivesse comigo me amando e não me mandando esquecer-lhe e
seguir em frente.
Sei que
pedi que me ajudasse a te esquecer, mas não precisava ser assim tão
repentinamente e não desse jeito. Doeu pra caramba, mas eu supero. Supero como
sempre superei suas partidas. Supero como sempre superei nossas brigas. Supero
como sempre superei as mentiras ditas em um simples eu te amo e que nem durou
tanto assim.
Nosso
amor foi uma mentira aos nossos olhos e uma enganação aos olhos alheios. Uma
fachada criada para que o julgamento dos olhares condenadores não pesasse tanto
assim. Vivemos desse jeito por bastante tempo até cansarmos de nos suportar.
Cansamos
amor e em muitas coisas. Cansamos dos gestos e dos carinhos, dos beijos e dos
abraços, da companhia um do outro, do riso um do outro, do olhar um do outro...
Da presença de nós mesmos na vida um do outro.
Eu vivi
só por muito tempo, enquanto estivemos juntos e você também viveu. E agora me
responda querido: era mesmo para ser assim?
Sinto
saudades das manhãs, dos cafés, dos poemas que você declama pra mim ao pé do
ouvido enquanto dançávamos ao som de um clássico qualquer. Sinto falta dos
momentos que foram bons.
Passou-se
um filme em minha cabeça enquanto lia essa sua carta tão apavorante. Pensei em
guardá-la, mas optei apenas por rasgá-la e queimá-la. Eu te pedi para que me
ajudasse a me largar de você e foi assim que o fez.
Estou
indo querido. Estou te abandonando e sentindo um vazio dentro do meu coração.
Está faltando um pedaço moço, está faltando você. Mas eu supero. Estou me
sentindo sozinha, mas nenhuma solidão é eterna, apenas a de amor verdadeiro.
Engraçado, o nosso não foi tão verdadeiro assim. Ou será que foi e não soubemos
descobrir? Quem sabe alguém descubra por nós e nos faça ver que o mundo pode
ser melhor sem o eu e você, sem os nos dois juntos. Quem sabe não encontramos
alguém que nos faça sentir aquela mágica que um dia não soubemos aproveitar.
Mas caso isto aconteça meu bem, não sinta ciúmes e nem venha atrás de mim.
Prometo fazer o mesmo, afinal, estamos quebrando as correntes e os cadeados,
estamos partindo por estradas diferentes. Não olhe para trás eu também não
olharei. Não quero mais a dúvida entre o ir e o voltar, quero apenas partir sem
rumo, onde nem mesmo o seu cheiro possa me encontrar.
(Carol Marchi)
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