Eu só aceito a condição de ter você só pra mim...




Eu me vi vagando pelas ruas, a chuva caia e eu não tinha nenhum guarda chuva para me proteger daquelas gotas pesadas, daquele frio que invadia meu corpo. Eu não corri... Eu já não tinha mais pressa para nada. Eu sentia a água encharcar meus cabelos e minha roupa e eu andava sozinha, ninguém se atreveu a por os pés para fora de casa... Acho que realmente eu era louca.
E lá estava eu, perdida em sua rua. A luz em seu apartamento estava acesa e havia uma sombra atrás das cortinas... Era você. Eu conhecia suas curvas, seus gestos e, eu sempre sorria só de pensar em você... Irônico não? Hoje não foi tão diferente assim.
Volto para casa. Na mesa o velho diário, em suas páginas uma historia de amor, em suas linhas uma letra trêmula, borrões de um passado bem presente... Marcas de café que encerram os momentos... No alto da mesa a velha lâmpada a iluminar o pequeno ambiente que era próprio de nós dois... Por entre a janela, a luz fraca da lua que vem me visitar.
A história se repete de um jeito mais profundo. A pior coisa entre nós é essa sua presença tão distante. Eu conheço os seus limites e também os meus, mas ainda sinto sua falta... É melhor que seja assim, cada um no seu canto, um com sua alegria o outro com a sua dor... Estou tentando me desapegar, estou tentando me afastar de tudo o que me consome e você me consome por inteira, suga as poucas energias que eu tenho... Confunde-me, me complica, me faz querer te ter por perto o tempo inteiro... É apego eu sei, mas eu te amo.
Amo-te e nem sei por quê... Aliás, eu sei. Sei os encantos que me envolveram, as qualidades que eu conheci os defeitos que eu enxerguei, mas que nunca me fizeram gostar menos de você...  Hoje eu já nem sei de quem é a culpa... Será que foi do tempo? Será que foi minha ou sua? Será que foi nossa? Será que foi das estrelas?
Olho meu semblante no espelho... O olhar que antes possuía um mistério já é lido facilmente quando de longe eu te vejo e sorrio automaticamente. O olhar que antes era feliz por estar ao seu lado, hoje se contenta em sorrir cabisbaixo quando você passa e fala apenas um oi. Eu mudei... Eu pareço que envelheci uns vinte anos. O que aconteceu comigo? Deixei-me ser tomada pelos ciúmes, envolvida pelo desejo de te ter só pra mim e eu te perdi... Por completo.
Amar é ruim... Não, amar a pessoa errada é ruim... Vai causando lentamente a morte de um coração que se dedicou que se entregou... Que deixou de viver para si, para viver para o outro. Nada me distrai, nem os livros que eu amava ler. A TV passa a maior parte do tempo desligada, e para dormir eu ligo o celular para ouvir a sua voz... É o meu sonífero e eu desabo com suas palavras, sufoco-me nas lágrimas e descarrego todos os problemas que às vezes voltam e pesam demais, mas de tudo isso o que mais pesa em mim é saber que daquela nossa proximidade e intimidade, só restou dois desconhecidos que já não sabem nem mais ficar confortáveis na presença um do outro. Eu sinto saudades até mesmo quando você me sorri e me arrisca um olhar. Sinto saudades de você e já nem tenho tanta certeza quando você diz que me ama.

(Carol Marchi)

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