Um ar de despedida

         

           Não sei muito bem como começar a escrever. Certamente você deve estar muito ocupado para sentar e ler neste pedaço de papel palavras que não fazem nenhum sentido, que não se encaixam.

         Desculpe-me te incomodar, hoje eu apenas tive saudade dos seus olhos, da sua presença, seu cheiro, sua voz, até do seu mal humor. Nem sei por que estou lhe falando tudo isso, mas apenas estou tentando encontrar as palavras certas para poder começar a escrever de fato o que eu realmente quero.

         Então lá vai...

         Já faz alguns anos que você foi embora e na minha vida um vazio ficou quer dizer mais um porque antes de você partir pessoas muito mais importantes tinham ido também, mas enfim voltando ao assunto, senti muito sua ausência no começo, era quase insuportável abrir os olhos todos os dias e saber que uma fase da minha vida tinha acabado uma fase que nem começara direito, pois os caminhos não eram paralelos. Como eu chorei você não tem noção da dor que eu senti, da falta que você me fez, aliás, você não tinha noção do tamanho do meu amor... Até então.

         Eu te amei tanto, muito mais do que a mim mesmo, me dei pra esse amor de corpo e alma, te contei sobre o meu sentimento e você o ignorou até o último dia em que esteve aqui e eu suportei tudo isso porque eu te amava, mas quem fez o papel de boba fui eu e chego a me perguntar se alguma vez você debochou dos meus sentimentos... Prefiro nem saber a resposta.

Todas às vezes, que você voltava na cidade para uma visita, eu dava um jeito de ir te ver, até a última vez em que você esteve aqui. Como eu estava com raiva, não conseguia te olhar nos olhos, tudo o que você me fez suportar nos últimos oito anos se esgotaram e a partir daquele dia eu me senti como se eu tivesse me livrado de um fardo, um peso tão grande que eu carregava nas costas, que depois de chorar pra aliviar a raiva toda tensão de todos os anos se foram.

A sua imagem se perdeu da minha lembrança, apaguei as suas fotos que eu tinha no meu celular... A distância mudou as coisas... O tempo me mudou, com o amor que eu sentia por você aprendi a lidar com a dor, a suportar a ausência, a ser fria, a não querer amar de novo e principalmente você despertou em mim o medo de amar outra vez... E nem sei se isso chega a ser bom ou ruim. Mas ninguém é feito de ferro.

E hoje estou aqui depois de todo esse tempo evitando ter os mesmos sentimentos por outra pessoa, não quero sofrer de novo e sei que isso o que eu estou sentindo é tudo, menos carência... E como eu queria que fosse apenas uma carência idiota. Sei que você não precisa e nem quer saber detalhes, mas preciso te mostrar o quanto ele mexeu comigo, mexeu de uma forma que somente você tinha conseguido fazer e isso tem me assustado, porque não quero sentir isso, não posso. Não posso me permitir passar pelas mesmas “torturas”.

Claro que com ele eu ainda não tive aquela “explosão” quando os nossos olhares se cruzam, mas é porque você sabia o que eu sentia e isso tornava as coisas um pouco diferente, ele não sabe, mas o olhar dele me conforta, traz-me uma paz enquanto o seu me trazia certa agitação, e eu gosto dos dois, do calmo e do agitado. O sorriso dele me faz sorrir timidamente, você raramente sorria pra mim e sua expressão séria mexia com alguma coisa lá dentro de mim que eu não sei explicar o que era. Sua voz me fazia tremer, principalmente quando estava nervoso, mas a dele me faz relaxar até dormir, enfim, está sendo muito difícil para mim as últimas semanas. Eu não tenho sabido lidar com os meus sentimentos, está tudo muito confuso... Tenho tentado descobrir se o que eu estou sentindo por ele é mesmo amor, e tudo indica que sim, o sorriso bobo quando eu o vejo, as pernas que tremem quando ele aparece, o coração que quase salta pela boca quando ele fala comigo, a respiração que se altera quando o tenho ao meu lado. Os sintomas são os mesmos, mas vocês dois são muito diferentes, mas ao mesmo tempo parecidos em algumas coisas.

A situação não é uma das melhores para mim, tenho medo, muito medo. Tudo parecia bem sem ter que ver a sua imagem, mas você voltou a aparecer. Ta sendo insuportável tudo o que eu estou sentindo, essa confusão, essa dúvida que ao mesmo tempo não é nem uma dúvida e sim um medo, porque os meus sentimentos por você não são os mesmos, é apenas um costume que eu adquiri, foram muitos anos te amando, me iludindo.

Imagino o quão idiota você deve esta achando essa carta, mas não a despreze no fundo eu ainda sinto alguma coisa, mas estou tentando te esquecer, por completo e só estou lhe escrevendo para que saiba que o que eu senti foi bom, mas muito ruim ao mesmo tempo. Ainda não cicatrizou a ferida aqui dentro de mim, mas uma hora isso tudo passa.

Eu apenas preciso de um tempo para pensar em tudo, preciso de um amor que cure tudo o que eu estou sentindo, que preencha esse vazio, que me ouça quando eu não estiver bem, que enxugue minhas lágrimas que sorria comigo, um amor com que eu possa conversar sem medo do julgamento de terceiros.

Peço que compreenda estas palavras e perdoe-me o incomodo, mas em meio a tanta coisa que vem me fazendo mal, o meu amor por você é uma delas e não sei por que, mas precisava partilhar com você sobre esse outro alguém, que também não vai dar em nada, apenas em saudades e lágrimas no fim de tudo isso.

Tenho chorado constantemente, a vida está confusa, tenho andado sem rumo, a escrita pra mim é melhor do que as palavras. Que sua vida possa estar correndo de acordo com o que você planejou. Apesar de tudo não tenho raiva de você e quero que seja feliz.

                                              

           De alguém que um dia te amou tanto...
                                                                      C.M

(Carol Marchi)