Quando você disse que me amava
Ontem
invadi sua casa. Levei tempos estudando um modo de entrar sem que você me
visse. Entrei calada e te encontrei sentado rabiscando alguma coisa em um
caderno qualquer. Confesso que estava curiosa para saber o que ali estava
escrito, você parecia muito concentrado então deveria ser alguma coisa
importante.
Você
passou a noite em claro e passou o tempo todo olhando pela janela alternando
entre olhar a lua e escrever mais alguma coisa. Tinha nas mãos uma xícara de
café, parecia estar bem forte, pois a cada golada que dava, fazia uma careta
engraçada. Eu estava com vontade de rir, mas não podia fazer nenhum barulho.
Fiquei ali te observando a noite inteira até pegar no sono.
Perdi
totalmente a noção do tempo, acordei assustada em um ambiente que não era de
meu conhecimento. Ah não! Estava no seu
quarto, você havia me encontrado caída em algum canto, bêbada de sono, que
vergonha!
Seu
quarto era tão organizado, eu estava com a sensação de estar em casa, sei que
não estava e que teria consequências da minha atitude na noite passada, mas eu
parecia estar no meu mundo no qual você estivesse fazendo parte. Rodei os olhos
pelo quarto e sobre a mesa de cabeceira estava o caderno do qual você não tirou
as mãos um momento sequer a madrugada inteira.
Sei que
era errado fazer o que eu estava prestes a fazer, mas a curiosidade era grande
e você nem estava por perto, parecia estar na cozinha, pelo menos o som da sua
voz estava vindo de lá. Rapidamente tomei o caderno nas mãos e comecei a
devorar as páginas de tantos escritos seus.
Não podia acreditar no que os
meus olhos estavam lendo, e queria ter a confirmação de que tudo o que
estivesse escrito ali fosse de fato verdade ou apenas uma fantasia. Mas como
perguntar? Jamais você poderia saber que eu estava mexendo naquilo. Continuei
lendo, até chegar naquele que você escreveu pela noite adentro. Não soube
decifrar se era uma confissão, eu só sei que foi a coisa mais bonita que eu já
li vinda de um homem que sempre foi um poço de arrogância, eu chorei e me
apaixonei mais... Pena não ser eu a pessoa que você descreveu, pena não ser eu
a mulher que toma seus pensamentos.
Depois de
certo tempo, distraída, notei a presença de certo alguém na porta. Virei à
cabeça devagar torcendo para que não fosse você, mas sorte eu não obtive
nenhuma. Você estava parado como uma estátua na porta e possuía a palidez da
mesma. Seus olhos arregalados se direcionavam ao caderno em minhas mãos e você
simplesmente perdeu a fala e eu não sabia o que fazer, se eu pulava a janela e
sumia ou se permanecia quieta apenas te olhando.
Você se
sentou ao meu lado, levou as mãos até o caderno, eu automaticamente o soltei,
era seu nada ali me pertencia... Você continuou de cabeça baixa com os olhos
fixos no chão e eu comecei a murmurar pedidos de desculpas por todas as coisas
que havia feito, por ter invadido a casa, por ter invadido a sua privacidade e
pela minha curiosidade insana. Foi tudo uma loucura sem tamanho.
Ele me
olhou nos olhos e sussurrou algumas palavras: Os textos se referem a
você... Fui embora por não saber lidar com os meus sentimentos, com os meus
desejos, mas calei por muito tempo em meu coração algo que gostaria de lhe
dizer.
Eu não
podia acreditar no que estava ouvindo, mas simplesmente me deixei levar por
aquele momento, mesmo que fosse apenas um sonho eu não queria acordar agora,
esperei por isso durante muito tempo... Sussurrei a ele também: Pode
dizer...
E em
palavras claras e um tom bem sonoro ele disse o que eu tanto esperei ouvir: EU TE
AMO!
E com um
imenso sorriso nos lábios deixei as lágrimas escorrerem de alegria e dei o
próximo passo que selou o começo de uma história que seria surpreendente, o
primeiro beijo, e com isso gritei que te amava para todo o mundo!
(Carol Marchi)
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