Mais uma vez...
Ela foi
até lá com um propósito. Sim ela queria vê-lo e foi a primeira pessoa que
ela avistou quando chegou em meio a tantas outras. Ele estava lá, conversando,
rindo, estava descontraído e relaxado, mas ele desapareceu e mesmo assim ela continuou sorrindo seu sorriso mais bobo. Ele veio se aproximou e cumprimentou a
todos e quando seus olhos se cruzaram, ela sorriu com mais intensidade e deixou
que todos os seus medos e segredos fossem libertos e desvendados através
daquele olhar.
Ela continuou
o observando de longe, não parava de sorrir. Seus olhos brilhavam toda vez que
ela contemplava a imagem dele bem a sua frente ou seja lá onde estivesse. Ela
prometeu para si mesmo que não iria chorar, mas nem todas as promessas podem
ser cumpridas. E ela chorou por não poder estar com ele, por não poder vê-lo
como desejava. E toda a dor que ela trazia no peito durante meses, foi se
esvaindo junto com as lágrimas que insistiam não parar quietas no lugar. Elas simplesmente
surgiam sem ser chamadas e não iam embora quando era a hora.
E ela fez
isso sem que ele visse, sem que ele percebesse seus olhos inchados e vermelhos
causados pela dor de um coração partido, de uma mágoa guardada a tempos, de um silêncio
tortuoso que a vinha acompanhando desde quando ele se foi pela primeira vez. A
partir dali ela nunca foi a mesma.
Ela o
está vendo partir pela segunda vez. Sabe que pode vê-lo quando quiser, mas não
é tão simples quanto parece. Ela queria ele aqui, mesmo longe mas perto, a
alguns passos dela. Ela só queria não ter que derramar mais nenhuma lágrima,
gostaria apenas de ser feliz sem a dor que a persegue, sem a saudade que a
machuca e sem o medo de amar e de ser amada.
E ao
final de tudo isso, ela ainda teve a coragem de ir até ele para se despedir
mais uma vez. Dizer o adeus que nunca parece ser definitivo. Ela só não pode
afirmar se isso é bom ou ruim, mas apenas que gosta de sentir seus braços a
envolverem como que se a protegesse de algo que possa lhe fazer mal. E foi assim
que ele a abraçou. Abraçou forte, como nunca havia feito. Eles deixaram-se
levar pelo momento, se perderam naquele abraço que durou pouco tempo, mas que
para ela parecia ter sido uma eternidade, já que para a mesma o pouco que se passa
ao lado dele já é o suficiente para uma vida toda, devido a falta de uma
afinidade mais profunda de ambos. Ele a agradeceu por tudo, pela ajuda e entre
outras coisas, mas ela limitou-se a sorrir e a gaguejar, em busca de uma
resposta para àquele ser que a conquistou de uma forma que ela nunca soube
responder. Ela ficou ali extasiada, saboreando o momento, se perdendo naqueles
olhos, naquela voz, em cada palavra dirigida a ela, em cada detalhe dele, em
seus braços. E então, ela se despediu e foi embora. Simplesmente mentiu quando
perguntaram se estava chorando, como sempre ninguém precisava saber de sua dor a
não ser ela mesma.
E ela
mais uma vez se vê perdida em um momento de indecisões, incertezas e de
esperanças que nunca são perdidas. Ela sabe que perde cada momento de sua vida
que poderia ser vivido com mais intensidade, com mais diversão e momentos inesquecíveis
com seus amigos e familiares. Mas ela não se importa. O mundo dela é diferente,
ela é diferente. Ela prefere o silêncio do seu quarto, o som do seu violão, a
música que a faz lembrar de cada cena de sua vida ao lado dele, de escrever pensando
nele, de chorar escondida do mundo, de se perder no seu próprio mundo, onde
nele só existem ela e ele, o casal perfeito de um conto de fadas com final
feliz.
Ela tem
medo de sofrer, mas sabe que isso será inevitável. Ela sofre por se apegar
demais às pessoas e com isso, tornando suas decisões difíceis. Prefere machucar
a si mesmo do que ferir àqueles que ela também ama. Pessoas que ela aprendeu à
amar, a admirar, a chamar de amigos. E para ser feliz ou para ver seu amor
voltar, ela teria que abrir mão de tudo isso para tê-lo de volta, mas o
problema é que ela não sabe viver sem nenhuma parte, por isso optou pela
neutralidade, sem envolver ou magoar ninguém a não ser a si própria.
(Carol Marchi)
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