O passado
Estou perdida no tempo. O vento bate serenamente
no meu rosto nesta tarde nublada. Parece que vai chover, mas não tenho certeza
disso ainda, não liguei o rádio e nem a TV para saber notícias do tempo.
Estou
sentada em uma pedra fria, acompanhada por uma taça de vinho, olhando as ondas
que batem e respingam em mim e junto às minhas mãos, trago uma carta escrita de
próprio punho por alguém que um dia prometeu não partir. Lágrimas caem,
molhando a carta que possuía uma caligrafia perfeita, onde cada palavra escrita
parecia ser um punhal que abria enormes feridas em meu peito.
Observo
o cair da tarde e o princípio de uma noite que parece que será longa. A lua
hoje, não quis mostrar sua beleza e nem me fazer sorrir por um breve momento,
só o brilho das estrelas nessa noite já me é suficiente.
As
horas passaram depressa e eu nem me dei conta. Meus pensamentos estão longe e
fora do meu controle. Na verdade, ele não está tão longe assim, mas se encontra
mergulhado nas lembranças da noite anterior, na noite em que brigamos,
discutimos. Não pensei que fosse terminar assim. Pensei que fôssemos superar
como sempre fizemos. Mas não, as palavras na carta mostram totalmente o
contrário.
Você
cansou. O encanto se quebrou, para você já não existia mais a magia e nem a
química que precisa ter em um casal. Não vou me culpar dessa vez. Eu fiz tudo
para manter nosso relacionamento como era antes, mas você não se esforçou nem
um pouco para mudar ou fortalecer aquilo que ainda existia entre nós.
Se
existe outra em sua vida eu não sei, mas se tiver, quero que você seja feliz. Te
agradeço por todos os momentos felizes que me proporcionou e por está comigo
quando eu mais precisei. Não digo a você que deixei de te amar, um
relacionamento e um sentimento de longos anos não terminam de uma hora para
outra. À partir de hoje não viro mais a página do mesmo livro, mas fecho este
para começar a escrever um outro. Parto para uma nova estrada em busca de um
novo amor e de uma nova história.
Guardo
o meu antigo livro na minha estante favorita, onde todos os momentos estão
gravados. Espero que ele não fique empoeirado com o passar dos anos, não quero
ter que pegá-lo novamente para limpá-lo, pois tenho medo de ser covarde. Medo de
abri-lo novamente e reviver tudo outra vez, mas só que agora de um modo mais
intenso. Tenho medo de que no futuro eu venha a me arrepender e novamente me
faça derramar lágrimas que já haviam sido esquecidas e secas. Tenho medo de ser
fraca e me deixar levar mais uma vez pelo o seu mistério, seu romance, carinho.
Tenho medo que esse amor me domine novamente e que se exponha de um modo
avassalador. E se um dia você voltar para procurar na estante o livro que deixei
esquecido, para novamente me fazer sentir tudo o que pensei nunca mais sentir,
só se lembre que a estante que você está revirando a procura de um passado que
eu não quero lembrar, não é um lugar qualquer, mas sim o meu coração que eu fiz
questão de manter imune a qualquer aproximação sua.
(Carol Marchi)
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