Última Dança
Só não me
vire as costas mais uma vez. Só não me dê aquele adeus definitivo. Se for para
ir mais uma vez que vá, mas parta em silêncio e me poupe de mais uma despedida.
Poupe-me das lágrimas que não quero continuar derramando e poupe-me das
lembranças que quero que fiquem esquecidas, mas sempre renascem junto a batida
do meu coração toda vez que lhe vejo voltando e simplesmente se aproximando.
Poupe-me de ter que conviver com sua ausência, é tão insuportável que sufoca.
Espero pacientemente que com o tempo você vire apenas um passado, mas sinceramente
não sei se quero isso.
As fotos
estão rasgadas, esquecidas na mesa empoeirada. As cartas estão manchadas devido
aos anos que se passaram. Já não lembro do passado com tanta frequência, apenas
flashes, momentos, lembranças.
O vento
entra pelas frestas das janelas fechadas, me fazendo estremecer nessa solidão e
no silêncio em que me encontro. É o único som que eu escuto, o assobiar e o
cair das folhas.
De que me
vale ligar o som? Você não está aqui para me tirar para dançar à luz da lua,
para cantar comigo, para cantar para mim e deixar-me envergonhada ao sentir sua
respiração próxima ao meu pescoço, sua voz ao meu ouvido, me causando arrepios
e distração.
Não sinto
vontade de ler. Nossos livros estão esquecidos e empoeirados naquela estante que
prometemos conservar para todo o sempre, já que era a parte que mais gostávamos
da sala. Sei que não cumpri o que prometi, mas você não está aqui para me
ajudar a mantê-la em ordem.
O aperto
em volta do meu coração se torna mais constante, ele espera a sua volta ansioso.
Mas está ferido, está chorando. Adormecido. Espera ser acordado. Espera sentir
seu perfume ao longe. Espera ver você voltar pela estrada que um dia te viu
partir. Ele quer se alegrar. Mas por favor, caso você volte e se voltar,
cuidado ao entrar em meu coração. Não precisa bater na porta, você tem a chave
para abri-lo. Entre, mas com cuidado. Olhe para onde pisa, ainda há feridas que
não cicatrizaram, mas sei que quando você voltar cuidará delas. Entre e venha
me encontrar. Estarei lhe esperando com uma xícara de café, um livro e até
mesmo com a vitrola ligada ao som de The Blower’s Daugther, com a lua
testemunhando nossos beijos e abraços e nos banhando para àquela nossa última
dança.
(Carol Marchi)
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