A última noite


         Eu olhava distraidamente pela janela, quando senti alguém chegar por trás de mim. Ele segurou minha cintura delicadamente e apoiou seu queixo eu meu ombro. Perguntou-me o que tanto eu olhava pela janela. Eu apenas dei de ombro e disse que não era nada, estava apenas pensando.
         Senti sua respiração em meu pescoço, e com isso me arrepiei, ele parecia tão calmo, mas sei que alguma coisa estava o deixando angustiado. Virei-me para ele e prendi minhas mãos em volta do seu pescoço, ele olhava fixamente em meu olhos e depois me deu um longo abraço, um abraço apertado.
         Senti seus lábios em meu pescoço, ele mordeu minha orelha e eu não resisti, roubei um beijo dele e logo depois sai correndo fazendo com que ele viesse atrás de mim. Ele conseguiu me pegar, me prendeu entre seu corpo e a parede, minha respiração estava ofegante, não conseguiria mais negar o que ele tanto queria, eu também queria isso. Ele me beijou apaixonadamente e eu não fiz nada para impedi-lo, deixei que ele me pegasse no colo e me conduzisse até o quarto.

         Ele me colocou na cama, e fez-me ir deitando conforme ele me beijava, eu tirei sua blusa e me perdi em seus braços e nos seus beijos. Me entreguei a ele e foi a noite mais perfeita que eu já tive.
         Acordei de madrugada, e o vi em meu lado, me aconcheguei em seu peito, e fiquei ali imaginando como seria daqui pra frente. Ele acordou e me olhou e me perguntou se estava tudo bem, eu fiz que sim com a cabeça mas permaneci deitada em seu peito, ele acariciou meus cabelos e ficamos ali em silêncio, acabei pegando no sono, creio que ele também fizera o mesmo.
         No dia seguinte, acordei primeiro que ele, fiz o café e depois me sentei na escada que dava para a porta de entrada. Fiquei ali observando o mar que se agitava e logo se acalmava e escutando o barulho das folhas que caiam conforme o vento. Logo, senti a porta se fechar atrás de mim e ele se sentou ao meu lado, me puxou para si e me envolveu em seus braços. Eu queria que aquele momento nunca acabasse, mas sei também que não duraria para sempre.
         Eu podia sentir sua respiração, estava agitada, podia sentir seu coração acelerado e em meio ao silêncio que estava escutei-o murmurar que me amava. Olhei para ele com os olhos cheios de lágrimas, sabia que seria a última vez que olharia aqueles olhos castanhos claros que eu tanto amava, sabia que seria a última vez que aquele momento aconteceria e sabia que seria a última vez que eu amaria alguém daquele jeito. Não consegui dizer nada, apenas o abracei e fiquei assim com ele por longos minutos.
         O dia passou rápido e a noite chegou com um peso além do normal. Eu estava tensa e ele havia saído para andar, eu fui para o quarto e fiquei lá olhando para o teto deixando que as lágrimas caíssem de meus olhos, sem nem me dar o trabalho de enxugá-las, quando senti uma mão em meu rosto e uma voz me dizendo para que não chorasse. Eu o abraçei com tanta força que senti meus braços apertarem em volta dele e mais uma vez deixei que o momento nos levasse.
         Ele me deitou com delicadeza e beijou meu pescoço, eu puxei seu cabelo e seu rosto para mim, o beijei intensamente, como se fosse minhas últimas forças e tudo aconteceu. Foi de um jeito mágico e ele fez com que a nossa última noite fosse perfeita.
         No dia seguinte, acordei e ele já não estava ao meu lado, tinha apenas uma carta, que parecia ter sido escrita de madrugada. Ele havia partido, foi melhor assim, ele partiu em silêncio para que eu não o visse indo embora e para que eu não sofresse mais do que eu já estava sofrendo. Eu o agradeço por isso, não sei, se teria sido capaz de deixar que ele partisse. Eu sei que sofro, mas sofro menos do que sofreria se tivesse a imagem dele em minha cabeça todos os dias, acenando e dizendo adeus para nunca mais voltar.

(Carol Marchi)

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