O amor fala mais alto



         Era fim de tarde. O sol se escondia dando lugar a noite que chegava ligeira. Junto com ela, trazia o mais puro e suave vento daquela noite de inverno.
         Eu te esperava em casa, toda encapotada me esquentando do frio que me fazia tremer. Você estava demorando a chegar, e eu ficava na janela esperando, esperando e você não apareceu.
         Liguei-te várias vezes para saber onde você estava, mas você não atendeu a nenhuma das minhas ligações e também não me ligou de volta. Então, acabei adormecendo no sofá de tão cansada que estava afinal você não iria aparecer mais hoje.
         Na manhã seguinte, acordei com o meu celular tocando, atendi rapidamente, mas não era você, era seu amigo pedindo que eu fosse buscá-lo em sua casa, porque na noite anterior você encheu a cara em uma festa que teve e acabou dormindo por lá. Peguei minhas chaves e fui antes tivesse ficado em casa, cheguei e  me dirigi até o quarto onde me deparei com você dormindo com outra. Não chorei, segurei minhas lágrimas e controlei a minha raiva, seria capaz de fazer uma loucura ali mesmo caso a deixasse falar mais alto.
         Você acordou e em um tom de surpresa me olhou e disse:
         - Amor, o que você está fazendo aqui? – e olhando para o lado, viu a mulher que estava com ele – não é nada disso o que você está pensando, eu não a conheço e nem sei de quem se trata e também não sei como ela veio parar aqui.
         - Será por que você veio a uma festa e encheu a cara? Custava me ligar e falar que estava em uma se agarrando com uma mulher qualquer? Eu fiquei a noite toda te esperando, dormi no sofá, nesse frio e você aqui se divertindo, enchendo a cara e agindo como se tivesse 20 anos de idade!
         - Perdão amor, não foi minha intenção. Eu juro que eu ia para casa, mas eu não sei o que aconteceu comigo que eu acabei bebendo demais e dormi por aqui mesmo. Perdoe-me.
         - Você me traiu e ainda quer que eu te perdoe? A francamente faça-me o favor, a única coisa que eu vou fazer com você é me separar e nunca mais olhar na sua cara.
         - Mas amor...
         - E não me chame de amor, não sou nada sua mais, fique ai se divertindo, termina de aproveitar essa baranga que está ao seu lado eu estou indo embora e espero nunca mais ter que olhar nessa sua cara.
         Fui embora para casa e no caminho de volta chorei tanto, descarreguei minha raiva toda naquele choro que parecia não ter fim. Eu estava com ódio dele, muito mesmo, ele não podia ter feito isso comigo, eu que sempre o apoiei, sempre dei amor e carinho, mesmo que ele estivesse bêbado ele sabia o que estava fazendo, ele também não era nenhum inocente.
         Voltei a minha rotina, trabalhando o dia inteiro, chegava a minha casa arrumava tudo, a noite saía com minhas amigas, estava tentando esquecê-lo e estava conseguindo fazer isso muito bem, até que ele resolveu aparecer. Ele chamou pelo o meu nome, não sei como conseguiu me achar, pedi licenças para as minhas amigas e fui até ele.
         - O que você quer? Já não basta ter me traído e humilhado e ainda vem atrás de mim?
         - Desculpa Alice, mas eu preciso buscar minhas coisas que estão em sua casa, eu vou viajar amanhã e preciso busca-las agora.
         - Théo, você ainda tem a chave de casa não tem? Então, vai lá e busca tudo aquilo que você tem que pegar, mas, por favor, não me incomode mais.
         - Claro, pode deixar que eu não irei mais incomodá-la. – nesse momento ele revirou o bolso atrás das chaves – mas lamento informá-la que eu não possuo mais a chave da sua casa, você a tomou de mim. Portanto, você terá que ir lá comigo querendo ou não.
         Ele deu um sorriso irônico, se ele soubesse o quanto eu odeio isso, não faria mais. Despedi-me de minhas amigas e fui com ele até a nossa antiga casa. No carro foi o maior silêncio, como era ruim ficar assim com ele, mas eu permaneci firme e não disse uma palavra sequer.
         Chegando a casa me joguei no sofá e esperei até que ele terminasse de recolher tudo o que era dele.
         - Então, já terminou ou pretende demorar mais? – ele estava perto de mim, com aquele perfume tão bom – por que está me olhando? Nunca me viu não?
         - kkkk adoro você assim sabia, com raiva rs, você fica mais linda do que já é.
         - aff’ fala sério Théo, já terminou?
         - Já rs – ele chega perto de mim, cola o rosto dele no meu e com isso vai fazendo com que eu me deite, odeio quando ele faz isso também, não consigo resistir – mas por que a pressa de eu ir embora? A noite mal começou rs.
         - Pode não ter começado pra você, mas pra mim ela já está terminando, aliás, ela já terminou – eu saio de baixo dele – então tchau Théo, boa noite e faça uma ótima viajem apenas de ida nada de volta.
         - A qual foi Alice poxa, caramba, eu te amo será que você não entende isso, poxa eu errei naquela noite eu sei, mas eu amo você. Põe isso nessa sua cabeça de vento, nessa sua cabeça dura, é só você que eu amo. Entenda isso, por favor.
         - Vocês sempre falam isso quando querem reconquistar as mulheres né, muda o repertório.
         - Alice, eu te amo, se eu não te amasse não estaria aqui. O que você quer que eu faça para você acreditar em mim?
         - Quero que você vá embora e me esqueça.
         - Pois eu não vou nem embora e nem te esquecer.
         - Vai sim – eu já estava com raiva aqui.
         - Não vou e vamos ver quem vai me tirar daqui – ele me encarou com aqueles olhos castanhos claros, sim, eu não resisti pontos para o Théo. – e pode parar de se fazer de forte você está louca pra me beijar e eu também estou, então pare com isso.
         - Você hoje está se achando né, coitado.
         - Aiai, gosto de você assim sabia, bem marrenta – ele me puxa com aqueles braços fortes e me aperta contra o seu peito, me prende com tanta força que eu não consigo sair.
         - Larga Théo a brincadeira acabou, eu não quero.
         - Xiu.
         Pois é, ele me beijou, e eu como sou muito “forte” me deixei levar por aquele idiota, irritante, tão fofo e lindo ao mesmo tempo. Ele me pegou no colo, me levou para o nosso antigo quarto, colocou-me na cama, beijou-me com suaves toques nos lábios, ele me amou e eu também o amei, por mais que eu não quisesse, a vontade falou mais alto. Ficamos abraçados à noite toda, é eu acabei perdoando ele, como não perdoar alguém que não saberemos viver longe? Conversamos sobre nossas histórias, de como havíamos nos conhecidos e assim eu acabei adormecendo em seu peito com ele acariciando os meus cabelos. É por isso que eu amo muito esse idiota, porque ele me faz ter raiva dele e ao mesmo tempo sentir carinho e amor.

(Carol Marchi)

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