Nosso nome... Nossa cara
A
porta do quarto se abriu e uma pequena luz adentrou por sua fresta. A moça
encontrava-se perdida em seus pensamentos, jogada ao colchão em meio aos
lençóis. Parecia uma eternidade desde a última vez em que aquela porta se
abrira, pois há muito que se encontrava fechada e a pobre moça permitira-se
ficar em um silêncio e numa escuridão profunda. Mas alguém se atreveu a entrar,
a mergulhar por seu abismo e salvá-la de sua própria solidão, sem ao menos
bater ou pedir licença... apenas trouxe um pouco de luz para aquele coração.
A
moça levantou-se um tanto perturbada devido a luz, fazia tempo que não via nada
tão brilhante e seus olhos se desacostumaram com a claridade, desaprenderam a
enxergar com clareza, mas algo estava diferente, ela se permitiu encarar aquele
pequeno clarão e com que se acostumasse àquela luz sem muita demora.
Um
cheiro de café tomou o ambiente, e a moça tomada por tamanha curiosidade
levantou-se com cautela e resolveu retomar seus passos perdidos em direção a
porta entre aberta. Sua casa parecia diferente do que se lembrava, não era mais
um lugar frio e melancólico, e sim um espaço tomado de uma alegria radiante, de
um calor que não sabia explicar... calor humano talvez. A moça se encarou no
espelho, e por um breve instante não se reconheceu ali... por quanto tempo
havia ficado trancada em seu mundo e deixado que outro alguém determinasse seus
passos? Seus olhos não eram tristes daquele jeito e seu sorriso costumava ser
bonito mesmo em meio as dores e lágrimas, mas nem isso ela se permitiu fazer,
parecia que a dor havia lhe transformado em pedra. Há quanto tempo não sorria
de verdade?
Foi
tirada de seu devaneio ao ouvir o som de sua vitrola, sua música preferida
tocando na velha vitrola. Permitiu-se esboçar um pequeno sorriso e a continuar
seguindo aquele aroma de café e as notas da melodia que lhe era tão conhecida. Sentiu
uma pontada no peito, era a saudade daquela sensação, daquela paz, do seu
ambiente, da sua vida... da sua casa, de sua morada... tudo parecia um sonho no
qual ela não gostaria de acordar.
Ao
chegar no topo da escada avistou sua sala de cima, sua lareira acesa, o
aconchego de um ambiente que tanto sonhara um dia. Fotos, fotos suas com um
homem... o homem que andava invadindo os seus sonhos e trazendo momentos bons e
alegres. Mas dentre todas as fotos uma lhe chamou a atenção, eles haviam se
casado e lá estava a prova da felicidade a dois que ela pensou nunca encontrar...
a foto era linda e o sorriso que estava estampado ali retratava aquela
ansiedade que ela estava sentindo no peito... ela havia encontrado alguém que
compartilhava das mesmas coisas que ela, encontrado alguém que queria dividir
uma vida e era recíproco, alguém que era real e não apenas um sonho.
Ela
caminhou até a cozinha e lá estava o moço de quem tanto escrevera um dia. Sem camisa,
com uma calça desbotada meia cintura aparecendo a cueca, preparando o café da
manhã e cantarolando em assobios a canção que a vitrola tocava... a música de
ambos. E a moça sorriu quando o moço veio em sua direção, puxando-a para dançar
e beijando-a, com um sorriso que tomava o coração da moça de alegria. E ela o
abraçou e se permitiu chorar depois de muito tempo, mas um choro de alegria e
ela percebera que a moça que ela vira no espelho era um pedaço seu que estava
ficando no passado e que fizera com que ela aprendesse a se reerguer e a
acreditar no amor novamente, que o amor recíproco existe sim e que um sonho
sonhado junto pode se tornar realidade.
A
moça encontrou o moço e fez de suas escritas, realidade. A cadeira de balanço já
encontra reservada na varanda da casa, as xícaras de café pronta para se
renovar todos os dias e a vitrola a tocar canções que os façam relembrar e
renovar todos os dias o amor que um dia lhes uniu. Ah e as crianças, bom esses
enchem a casa de alegria, um casal lindo e cheio de energia, Théo e Ana Flor.
(Carol Marchi)
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