Nossa viagem




Era quinta pela manhã quando o celular alertou uma mensagem. Abri os olhos, ainda sonolenta. Na tela o nome escrito me trazia o conforto para aquele dia, afinal, havia chegado à data pela qual eu mais esperava. O sorriso rasgou meu rosto, eu parecia uma criança que acabara de ganhar o presente que mais queria. Logo eu estaria com ele, sentindo novamente seu toque, seu cheiro, seu corpo no meu, seu abraço tão reconfortante, logo eu estaria com o meu amor.
         Respondi de imediato sua mensagem. Ele vinha de longe e meu coração batia no compasso dos ponteiros do relógio, mas por vezes se descontrolava. Saltei da cama e fui correndo me arrumar, a emoção daquele dia se estampava cada dia mais em meu rosto. Não via a hora de entrar no carro e correr para os seus braços.
         Minhas mãos suavam enquanto eu respondia ansiosamente suas mensagens. Entrei no carro correndo, toda eufórica e segui meu rumo. A cada cem metros meu coração se apertava e se alegrava, eu queria vê-lo e abraçá-lo o quanto antes.
         O trânsito não ajudava muito, mas logo eu cheguei ao meu destino e tão logo o avistei do outro lado da calçada. E lá estava ele, de mochila nas costas a me esperar. Tentei conter o sorriso, mas ele apareceu mediante minha respiração acelerada. Ele veio, realmente estava ali.
         Desci do carro em um salto e logo falei: “meu pai quer falar com você.”. Vi seus olhos se arregalarem enquanto ele se aproximava do carro, eu ria do seu desespero ao falar com ele, tentando parecer calmo e natural. Nem parecia que havíamos preparado uma fala.
         E assim ficamos, eu e ele. Nós dois em um dia que seria só nosso. Eu o abracei tão forte que senti seu coração no meu, segurei sua mão e caminhamos até decidirmos o que fazer. Por longas horas ele seria só meu, por longas horas eu iria tê-lo comigo como nunca tivera antes, sem medo, sem pressa. Eu tentei manter o controle em sua frente, mas como sempre, não consegui.
         Depois de alguns minutos, decidimos comer, fizemos nossos pedidos e nos sentamos. Eu queria mais que nunca beijá-lo, parecia que não fazia isso há séculos, mas eu estava morrendo de saudades e estava nervosa ao mesmo tempo. Ele parecia calmo, mas sei que só parecia mesmo. Só sei que quando me dei conta, nossos lábios já estavam se tocando e se demorando um no outro. Nosso primeiro beijo em público, eu lembro perfeitamente de suas palavras.
         Terminamos nosso lanche e seguimos caminho até o hotel, uma longa “jornada” para encontrá-lo, mas enfim, conseguimos chegar. A rua era linda, o cenário perfeito para uma primeira viagem e uma história de amor proibida. O hotel tinha um estilo clássico, tudo era perfeito e até o que não era se tornou ao lado dele.
         Eu era dele e ele meu pelo menos ali ele era só meu. Sorri ao encontrar seus olhos e ele logo foi dizendo que iria tomar banho. Enquanto eu esperava, olhava para o teto, ainda tentando descobrir se tudo aquilo era mesmo real. Foi quando ele saiu do banheiro enrolado na toalha é que tive a total certeza de que aquele momento era mesmo real, de que estava acontecendo e que eu poderia acordar a hora que fosse daquele dia, que ele ainda estaria ali.
         Não pude deixar de achar graça quando ele tirou a toalha que estava presa à cintura, ele estava de cueca, parecendo um moço recatado. Ele se deitou por cima de mim, seu rosto tão perto do meu, encarei-o por alguns segundos que pareceu uma eternidade. Seus olhos estreitos e fortes, sua barba por fazer e aquele sorriso torto que me derretia e seus lábios tocando os meus. Ele desceu a mão desabotoando minha blusa, me despiu por completo e colou seu corpo no meu, sorri moleca e disse que era a minha vez de tomar banho.
         Sai de baixo dele e fui correndo para o banheiro, a água estava uma delícia. Terminei de me secar e voltei pro quarto, ele fingia dormir, deitei-me ao seu lado, quietinha para não tirá-lo de seu pequeno “cochilo” e sorri quando o vi sorrindo malandro. E ele me atacou! (kkk) Fizemos amor com calma, sem medo. Seu corpo sobre o meu, seu cheiro, seu suor com o meu... Éramos livres por pelo menos um dia. Exaustos, acabamos dormindo. Ele me envolveu em seus braços, seu corpo tão gelado me trazia sensações maravilhosas.
         À noite chegou e saímos para passear, colocar qualquer coisa no estômago. A praça iluminada se tornou meu cenário favorito. Éramos um casal normal, sentados no banco do parque, perdidos em época de Natal, vendo as luzes iluminar todo o ambiente. Crianças corriam livremente, iam e vinham, gritavam e nós conversávamos, riamos e amávamos.
         Por anos não dormia tão bem. A presença dele me trazia paz, serenidade. Seus braços eram a morada que eu procurei por anos, mas como dizer isto a ele sem que o assuste? O dia já havia acabado logo iríamos embora e eu só queria mais um dia com ele, só mais um.
         Passamos mais um dia juntos, fomos às compras, sentamos de baixo da sombra do coreto depois de tanto andar. Aproveitamos cada hora daquele último dia. Fizemos amor por várias vezes, conversamos, cantamos, rimos, choramos e pegamos no sono.
         No dia seguinte o relógio despertou. Levantar foi sacrificante, não pela hora, mas por causa de uma despedida que eu não queria presenciar. Tomamos banho, juntamos nossas coisas, acabei ganhando sua camisa que sempre foi a minha favorita. Não queria encará-lo e dizer adeus, mas precisei. Engoli o choro, nos abraçamos e nos beijamos tão forte que pude sentir seu coração outra vez. Era hora de ir. Saímos de mãos dadas e fomos nos sentar na escada da Igreja para esperar meu pai. Encostei minha cabeça em seu ombro, aproveitando aqueles últimos minutos com ele.
         Meu pai logo chegou e fomos levá-lo até a rodoviária. Ele me abraçou tão forte antes de ir que tive que segurar as lágrimas, mas eu não era tão forte assim. Enquanto ele sumia sobre minha vista, eu permitia ao choro a liberdade que ele necessitava ter.
         Foram dois dias que ficarão para sempre comigo, cada pequeno detalhe, cravadinho em meu coração. Hoje me deu saudades deles, confesso que as lágrimas escorreram constantemente. Saudades daqueles momentos que foram tão íntimos, que tinham nossa cara. Dos sorrisos soltos em meio às cócegas que ele me fazia, em meio às conversas. Hoje me deu saudade de estar assim com ele e de dormir ao seu lado, sabendo que amanhã, mesmo quando eu acordar, ele ainda estará aqui. Só me deu a vontade de perguntar se ele ainda me ama do mesmo jeito que antes, ou se ama mais... Só me deu vontade de implicar com ele, de morder, fazer amor e chamar de meu... Meu melhor amigo, meu homem, meu namorado, meu Grey, meu amor...

(Carol Marchi)

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