Aquela despedida




Eu venho a algum tempo, tentando escrever esse texto, na verdade eu já o recitei várias vezes em voz alta, apenas para não esquecer as palavras. A verdade, é que as palavras ainda saem meio presas e engasgadas.
Esse texto, ele narra a despedida. O dia em que o moço se despediu da moça. O dia em que deixaram de ser um casal, para continuarem a ser apenas bons amigos.
As lembranças da moça são fortes... Foi o último beijo, o último abraço... O abraço que selou o fim de toda aquela história... Uma história que se iniciou com muitos abraços e foi selada com um beijo, naquela porta... Naquele dia... Naquela noite.
E a moça foi ao encontro do moço, com o coração em pedaços, com o medo estampado nos olhos e com um sorriso frouxo nos lábios. Ela esperou por ele, o tempo que foi preciso, que foi necessário, mas ele não pode descer tão rápido. E ela lhe mandou uma mensagem dizendo que precisava ir embora, pois era hora e o moço desceu aquelas escadas e, quando ela o viu, seu coração ficou em pedaços, pois era chegada a hora de se despedir. Ele tinha que ir, e ela de certa forma tinha que começar a seguir sua vida... Sem ele ao seu lado.
Desse modo, os dois se encararam, olharam-se como quem se via pela primeira vez... Demoradamente, apaixonadamente. Ele a tomou nos braços e a abraçou forte, seus corpos colados um no outro, seus braços em volta de sua cintura, enquanto ela enroscava-se em seu pescoço, encostando a cabeça em seu peito e ouvia seu coração bater muito forte. Seu perfume a embriagava e ela não queria ter que deixá-lo ir nunca. Um aperto se formava em seu peito, mas ela conteve as lágrimas.
O moço lhe tocou os lábios e apertou os braços em volta dela. Ela se sentia segura naquele aperto, naquele aconchego. Ali era sua casa, o seu lugar preferido. E assim eles permaneceram, por curtos minutos, minutos estes que ficariam guardados para a eternidade. E mais uma vez a moça teve que conter as lágrimas, com toda a força e o pouco autocontrole que ela tinha.
Ela o encarou nos olhos e lhe disse que o amava. Ele continuou a segurando nos braços e encarando do mesmo modo o seu olhar, também deixou que as palavras saíssem de sua boca... Soando como música, enquanto dizia que a amava também. E naquele instante, o coração da moça saltou do peito para a garganta... Ela queria gritar e não podia, queria pedir que ficasse, mas as palavras não saiam de sua boca.
O moço tornou a subir as escadas, e ela sabia que era hora de ir. Abriu as portas, olhou para ele e lhe disse adeus. E o olhar de ambos não conseguia se desgrudar. E ela rapidamente saiu, antes que perdesse a coragem de ir... Antes que o agarrasse ali mesmo. Tomou o seu caminho, tendo as lágrimas como sua companheira. Colocou os fones de ouvido e seguiu sua jornada que não era tão longa para casa, mas que parecia não ter fim, já que seus passos se tornaram arrastados e pesados. E ela só queria o refúgio de sua cama, se afundar naquelas lágrimas que não cessariam tão cedo, se perder em saudades... E assim ela se foi, seguindo o seu caminho... Perdendo-se nas canções.
As lágrimas eram tão constantes e pesadas, que naquele momento ela nem se lembrou de que não gostava de chorar na frente dos outros. O que ela não esperava era ter que vê-lo partir, se distanciar aos poucos diante dos seus olhos... A despedida já tinha sido bastante dolorida e ela teve que se controlar ao vê-lo passar ao seu lado de carro, com o rosto na janela. Eles se encararam, enquanto ela tentava disfarçar o choro, tentando sorrir para confortá-lo. E o olhar da moça acompanhou aquele carro até o fim da rua, até o momento em que ele desapareceu de sua vista.
Ali terminava uma história de amor, que ela nem pensava em viver. E enquanto seguia seu caminho, a moça recebeu uma mensagem... Ela não tinha forças para responder e nem para mentir dizendo que estava bem, mas ela assim o fez, para confortar o coração do moço, para que ele fosse embora em paz, com a certeza de que ela tinha sido muito feliz ao seu lado, pois ele foi o único que lhe proporcionara momentos tão incríveis.
Quando chegou a sua casa, ela se trancou em seu mundo, abraçou o sapinho de pelúcia e reviveu as lembranças... Toda a saudade de alguns dias antes. Daquela viagem, daqueles momentos que seriam somente deles e para eles... Daqueles beijos, daqueles abraços... Daquele amor. Foi um dia de saudade e todos os dias passaram a ser monótonos desde então.
Faltam os abraços, os beijos, os momentos, as risadas, as brigas... Falta ele aqui. Mas ela sabe que sempre terá um abraço dele lhe esperando, que pode encontrá-lo naquelas mensagens de noite adentro, naquelas palavras que só ele sabe lhe dizer e naquelas conversas que somente os dois entendem. E toda saudade é diminuída um pouco, naquelas fotos que eles tiraram em um sábado à noite... Onde ele vestia sua camisa favorita e ela colocou um vestido apenas para encantá-lo...
Aquelas fotos preenchem o fundo da tela de seu celular, e ela o ama toda noite, todo dia, toda a hora... Cada dia mais. Ela o ama nas distâncias, ela o contempla em cada ausência... Só ela sabe a falta que ele lhe faz e o vazio que ele deixou e como são difíceis todas as despedidas... Esse é um vazio que ninguém preenche. Ela é o medo e ele a segurança. Ele é a força que ela precisa para não fraquejar... E o sorriso dele é a única luz que ela deseja ver todo dia, quando o seu dia amanhece sombrio.
Ele tem os beijos que ela precisa, mas os beijos já não lhe pertencem. Restam apenas as lembranças de um amor que foi maravilhoso e agora a certeza de uma amizade que vai durar para sempre... Ela ainda o ama e guarda com ela aqueles momentos, como aquela caixinha de música que guarda aquela canção. Ela o guarda dentro de si e toda a noite o seu coração da corda para as lembranças. E ela sorri, chora... Ama. O ama sempre, como se ainda fosse à primeira vez.

(Carol Marchi)

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