Espera interminável




A noite de ontem foi fria.  A sua ausência era tão óbvia que até mesmo a coruja se negava a chegar perto da janela do meu quarto.  O clima lá fora, acusa que a noite passada foi de chuva. Pequenas gotas se fazem presente na janela, e alguns pingos se desfazem no chão quando se expulsam de algumas folhas.
A manha esta sendo dura... Olhar meu reflexo no espelho é estranho, parecem que envelheci uns 20 anos desde que você se foi. O meu olhar tem andado sem vida, cabisbaixo, o sorriso já não compõe o meu rosto como antigamente, tem sido difícil levantar todos os dias e lutar contra eu mesma, acho que é uma das piores batalhas, lutar contra si próprio.
Tem dias que são calmos, mas há outros que são agitados e hoje é este dia, ainda mais depois da tempestade de ontem. O vento bagunçou tudo, entrou pela janela que esqueci aberta e tirou as cartas de ordem, cartas que não foram enviadas, jogou pelos cantos da casa letras de música que compus músicas incompletas que nem inspiração para terminar eu tive, mas deixei-as ali para que se algum dia ela surgisse eu pegasse meu violão desafinado e empoeirado e terminasse de escrever a canção que fale de você ou de nós.
O tempo lá fora ainda continua nublado, mas já não chove tanto como ontem, apenas chuviscos, pingos que parece lágrimas, o céu também amanheceu chorando assim como eu. Aqui dentro de casa está muito escuro, mas prefiro assim, prefiro me esconder no silêncio e olhar pela janela os carros que passam os pássaros que voam despreocupados sentindo os pingos de chuva e a brisa leve, pelo menos eles estão felizes... Voam em bando, têm companhia... Permito sentir inveja desse momento... Também gostaria de ter você aqui...
Nada de extraordinário vai acontecer hoje... Você não vai adentrar pela porta carregando uma mala em uma mão e um guarda chuva em outra e nem me abraçar como fazia quando sempre chegava de uma viagem. Você não vai bagunçar meus cabelos e nem implicar comigo e nem me puxar para aquele beijo, beijo de quem tem saudade, beijo de quem ama. Você não vai bagunçar os livros e nem tirar a xícara de café do lugar, você não vai cantar pra mim e nem dormir comigo, não vamos dançar juntos aqueles boleros enquanto cozinhamos qualquer bobagem para o jantar, você se foi e pode ser que não volte mais.
Enquanto fico esperando, vou vendo as horas passarem lentamente em qualquer lugar como se fosse para me castigar, vejo a vela ser consumida aos poucos em minha frente e sua chama forte a tremeluzir um passado que ainda é presente, uma saudade que ainda é forte e uma ferida que não consegue cicatrizar.
Estou com saudades e nem sei como todo esse sentimento pode ser reduzido ou explicado, só sei que quero me perder nesse escuro e me enfiar debaixo do cobertor para me proteger do frio e também da noite que daqui a pouco chega, trazendo sonhos ruins e lágrimas que parecem não ter fim.


                             (Carol Marchi)                

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