Minha habitual bagunça
A xícara
de café está fora do seu lugar de costume, assim como tudo em minha vida. Minha
casa está uma bagunça que só vendo para ter certeza se aquilo que estou
passando é mesmo real. Meu mundo está de cabeça para baixo. O que foi que
aconteceu moço?
A vitrola
está ligada ao som de uma música triste e melancólica. Tenho vontade de ir
desligar, mas me falta forças para ir até lá e fazê-lo. Foi sua ausência que me
deixou assim.
Engraçado,
tudo tem seu cheiro, mas nada tem você. Tudo lembra você, mas sua ausência
ainda se faz marcante.
Sabe o
que mais me intriga amor? É saber como sua xícara está fora do lugar se você
não está mais aqui para o habitual café da manhã? E como a vitrola está ligada
se nem mesmo sai do lugar para tomar sequer um copo d’água? E porque a casa
cheira tanto a você se você já se foi há muito tempo? Será que estou sonhando?
Ou será que estou começando a ficar louca? Definitivamente não quero isso pra
mim. Está na hora de começar de novo, só me resta agora levantar e seguir em
frente.
Que
curioso, do outro lado da parede ouço uma voz cantarolando junto à música que
toca. Conheço está voz e o tom afinado que ela tem. Chego à porta da cozinha e
sinto dentro de mim aquele velho e conhecido frio na barriga de toda vez que o
via. Era você moço que estava de volta, reorganizando a bagunça que eu havia
esquecido como arrumar. Era você que estava de volta para colocar no lugar
pedaços que foram quebrados dentro de mim quando você se foi. Era você mesmo
que estava sentado ali no chão, olhando-me nos olhos, sorrindo e esperando que
eu demonstrasse alguma reação.
Caramba!
Era tanta emoção dentro de mim que eu não tinha nem forças para me mexer.
Queria fazer tantas coisas, queria tantas respostas, mas agora só queria correr
e te abraçar e foi isto o que fiz. Voltei para o meu antigo aconchego, voltei
para o único lugar que me sentia protegida, voltei para os seus braços e
abraços amor, para os antigos beijos, para o meu velho coração.
Moço, se
isto for sonho, por favor, não me acorde. Deixe-me onde estou esquecida no
velho sofá da sala, com as lágrimas fazendo parte da minha rotina. Deixe-me
sofrer calada, o silêncio é a melhor resposta para várias perguntas. Deixe-me
sonhar com um futuro que não irá acontecer.
Mas amor,
se isto for real, dê-me agora sua mão e vamos continuar de onde paramos, ainda
temos uma história para terminar, ainda temos muitos vazios para preencher e
muitas xícaras de café para serem tomadas cotidianamente e lado a lado como nos
velhos tempos.
(Carol Marchi)
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