A troca de cartas



Lembranças do moço


Oi moça! Quanto tempo eu não lhe escrevo! Não foi porque eu não quis, mas é porque me faltava à coragem de lhe escrever e enviar a carta e também, não sabia muito bem o que escrever, afinal, eu lhe fiz sofrer muito e você deve estar com uma raiva imensa de mim. Mas hoje lhe escrevo, tomo a coragem necessária e me atrevo a chamar-te de amor. Sei que agora é tarde demais para isto, mas só hoje sei o que realmente sinto.
         Bom, então lá vai. Fiquei sabendo das novidades querida. Recebi a notícia de que tens um novo amor. Muito me alegro por saber que você voltou a sorrir, você realmente merece coisa muito melhor do que eu, mas também me entristeço por saber que já não sou mais eu a ocupar seus pensamentos e nem seu coração, mas a culpa foi toda minha meu bem e agora é a minha vez de lidar com a dor da ausência da única que foi capaz de me amar verdadeiramente, a única que sabia me compreender, me entender.
         Hoje os olhares para o céu e para a lua são meus. Hoje as lágrimas que escorrem são as minhas, somente minhas.
         Por muitas vezes você me viu partir e voltar, eu já até perdi as contas de quantas vezes foram, mas eu tenho certeza de que você sabe, porque apesar de todas as minhas idas e vindas você sempre me aconchegava em seus braços.
         Amor, obrigado por ter sido para mim aquilo que não fui capaz de ser para você. Apesar de todo sofrimento que eu lhe causei você continuou me amando até encontrar este novo alguém que lhe fez sorrir e novamente acreditar no amor.
         Desculpe-me por tudo, que sejas feliz, também procurarei ser. Torço muito por você e mande notícias, apesar de tudo ainda gostaria de ter sua amizade.
         Ao som da nossa antiga vitrola, ouvindo sua banda favorita, com a antiga e amiga xícara de café, despeço-me de você em um tom romântico. Estou escrevendo sob a luz da vela amor, com a lua invadindo o ambiente e lembrando-me do nosso primeiro encontro, nosso primeiro jantar, do seu olhar e principalmente do seu sorriso que me fascinou desde o primeiro momento.
                                              Com amor e carinho... O velho moço. Eu te amo!




A despedida da moça





Ei moço! Faz tempo mesmo! Já havia até me esquecido de como era sua caligrafia, como sempre perfeita, assim como tudo em você. Escrevo-te esta carta escondida daquele que hoje caminha comigo, sei que é errado, mas não posso magoá-lo, não quero que ele sofra aquilo que sofri. Mas também não quero mencionar aqui o passado.
Fiquei muito feliz por ter escrito e não precisa ter medo sobre aquilo o que eu sinto, sabes que no fundo não consigo te odiar, por mais que eu queira, eu não consigo e eu sei muito bem o motivo e acredito que você também saiba.
Sabe moço, ao receber sua carta não acreditei muito que era sua. Analisei aquele envelope que tinha em minhas mãos por longas horas e observava seu nome como remetente e sorri o meu sorriso do primeiro encontro. Demorei a abri-lo, tinha medo do que poderia estar escrito dentro daquele pequeno pedaço de papel. Mas abri, esperei ficar sozinha para poder saber o que ali estava escrito, apesar do frio na barriga a minha curiosidade era muito maior. Então, assim que fiquei sozinha tomei o envelope nas mãos, retirei o lacre cuidadosamente e mergulhei naquelas palavras. Mergulhei em meus pensamentos. Precisei rele-la umas três vezes para acreditar no que tinha escrito. Não sei se o que escreveu é verdade, mas admito que suas palavras, mexeram comigo.
É querido, tens razão em dizer que eu sei muito bem de cada ida e vinda sua. Guardo a lembrança de cada uma delas comigo, todos os dias me recordo um pouco de cada uma e isso já era pra ter mudado, mas não, sua ausência ainda se faz presente em mim. A partida que mais me doeu foi à última, porque dessa vez você não voltou. Somente foi e ficou amor. E eu continuei aqui, lutando com os fantasmas do passado, tentando desesperadamente te tirar de mim. Até que um dia eu conheci este novo alguém que me fez sorrir e descobrir novamente o amor, assim como você mencionou em sua carta.  Mas não precisa chorar querido. Nada mudou e você ainda ocupa o seu lugar de sempre.
Mas não se iluda ao pensar que o meu sorriso é verdadeiro. Sinta-se feliz por ser o único a fazer com que ele surja sincero e sem tristeza alguma. Ele ainda te pertence, aliás, o meu coração ainda te pertence. Mas uma hora nos cansamos meu bem de viver de tantas idas e vindas e, eu me cansei das incertezas sobre sua volta.
Adorei que tenha escrito, mas não quero reviver o passado. Não pense que me esqueci de nós, acho que não serei capaz de fazer isso, por mais que eu queira, por mais que eu tente arrancar as lembranças de mim, elas não saem. Mas chegou a hora de vivermos nossa vida, o nosso caminho. Você escolheu partir, ir e vir sempre que quiser. E eu escolhi ficar, mas não quero mais derramar lágrimas. Quero um amor que fique, quero um amor que eu tenha a certeza que eu possa contar todas as vezes que quiser chorar ou sorrir. Quero um amor para dar a mão e sair juntos pelo mundo a fora. JUNTOS e não cada um pela sua estrada.
Peço que não me escreva mais, não quero que o novo moço encontre cartas suas por aí. Não queimarei esta, irei guarda-la junto com sua foto para sempre que eu tiver saudades venha a me sentar em um canto qualquer com a nossa velha e amiga xícara de café, onde tenha a luz da lua e ligarei a vitrola ao som da minha banda favorita para sempre me perder nas palavras que você escreveu. Nas doces palavras que ainda não saíram da minha cabeça.
Ah amor, ainda não perdi esse costume, deve ser porque você ainda é o único e talvez nunca deixe de ser. Mas não era isso o que eu queria dizer, não agora, porque agora eu venho é lhe pedir. Então, a única coisa que lhe peço é isto: gostaria que na data que nos conhecemos, espero que ainda se lembre dela, que você encontre um canto qualquer da sua casa onde a lua tome conta do ambiente, ligue a vitrola ao som da nossa música, a música do primeiro beijo, com a xícara de café nas mãos e que pense em mim. E eu prometo que farei o mesmo. Assim, estaremos sempre ligados em pensamentos uma vez ao ano e se alguém perguntar o porquê do silêncio e do sorriso, não diga nada, olhe apenas para a lua e sussurre o meu nome, pois daqui onde eu estiver estarei sussurrando o seu, com um brilho incomparável nos olhos.
                                       Com amor e carinho... Para sempre, sua moça. Eu te amo!


(Carol Marchi)

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